Sombra Lunar

Crítica: Sombra Lunar

Falar sobre viagem no tempo sempre foi algo complexo no cinema. Apesar dos muitos furos, um de seus aspectos mais interessantes é que essa premissa pode ser aplicada dentro de qualquer gênero. De Volta Para o Futuro é uma aventura; O Exterminador do Futuro 2 – O Julgamento Final é ação; Harry Potter e o Prisoneiro de Azkaban é uma fantasia; Click é uma comédia; e A Morte Te Dá Parabéns é um terror. Completando a cartilha, Sombra Lunar é um neonoir (ou pelo menos tenta ser) com time travel. Imagine que Zodíaco tivesse um filho com Looper, só que ruim.

No ano de 1988, Locke (Boyd Holbrook, O Predador) é um policial de menor escalão na Filadélfia. Ambicioso e seguidor de seus instintos, ele descumpre as ordens de seu chefe, Holt (Michael C. Hall, Versos de um Crime), e decide investigar um estranho caso, no qual pessoas estão sangrando até a morte após serem picadas por uma agulha.

Entretanto, quando finalmente se encontra cara-a-cara com Rya (Cleopatra Coleman), a autora dos crimes, esta revela ter vindo do futuro. Não só isso, mas ela conta que, naquele exato momento, a esposa do policial estaria morrendo durante o parto. A partir de então, o filme acompanhará a vida de Locke, de nove em nove anos, sempre na data que a viajante volta no tempo.

Inicialmente, o roteiro de Weidman e Tock começa simples ao tratar de sua lógica interna. Resumidamente, Rya viaja, do futuro para o passado, em sentido inverso ao do protagonista. Ou seja, para a viajante, o primeiro encontro deles é o último, e vice-versa. De maneira expositiva, eles tentam explicar isso, colocando Locke explicando a viagem no tempo utilizando um saleiro e um caneleiro como exemplos.

Contudo, a história se pauta em um princípio da predestinação que pouco convence. Em particular, um cientista que aparece como Deus Ex Machina na trama incomoda bastante. Em primeiro lugar, porque ele surge aleatoriamente para explicar aos protagonistas como funciona a viagem no tempo de Sombra Lunar — e que é uma explicação muito fraca, pois funciona conforme ciclos da lua e, por isso, o título do filme. Além disso, ele fica fissurado com um objeto importante da trama que veio do futuro e, tentando reconstruí-lo, acaba criando tal ferramenta. Pois é, viagem no tempo é complicado.

Ainda sobre o roteiro e sua fixação com predestinação, é provável que o público mais acostumado com o gênero mate sua charada antes de sua revelação. Clichês não são um problema a priori, mas se tornam ruins quando mal executados e de maneira cafona. Por outro lado, tratando de seu lado investigativo, sua lógica é igualmente rasa. Cada descoberta feita por Locke não é precedida por nenhuma dificuldade real a ele, apenas por um jogo de gato e rato com Rya ao longo dos anos.

Sombra Lunar

De todos os recortes temporais, o mais atrativo é, sem dúvidas, o do primeiro ato. Aliás, uma pena que Sombra Lunar não se passe todo nos anos 80. Característica marcante do diretor Jim Mickle (Julho Cinzento), seu apreço por uma paleta azul marca sua versão da Filadélfia. Tanto o filtro da câmera, quanto sua presença espalhada pelo design de produção e até realçada pela própria chuva, criam essa estética fria azulada. Juntamente com a ambientação noturna, sempre contrastando com os grandes anúncios azuis, além de numerosas fumaças, Mickle cria um ambiente neonoir, lembrando Drive.

Entretanto, a única coisa realmente diferente daí para frente é a aparência do protagonista. Neste sentido, Holbrook mostra uma enorme versatilidade ao performar a decadente jornada de um homem até a loucura (seus melhores e mais emocionantes momentos), passando por uma grande transformação física. Igualmente é a mudança em Michael C. Hall, apesar de mais contida. Sempre querendo os holofotes para si, Holt envelhece em um perfeito burocrata. Outro secundário é o parceiro de Locke, Maddox (Bookem Woodbine, Operação Overlord), servindo de alívio cômico (que funciona) e trazendo um contraponto em seus diálogos.

Por fim, Sombra Lunar tenta ser um ambicioso sci-fi investigativo, mas sua narrativa é simplista e repleta de facilitações, ainda que entregue um final coerente com sua lógica. Inclusive, a motivação por trás das ações de Rya, quando esclarecida, mostra que o filme deixou pistas interessantes ao longo do caminho — como os livros de presidentes norte-americanos espalhados e a cena da abordagem policial — mas faltou maior desenvolvimento para tal temática não soar um maniqueísmo barato de que o mal está em toda camada da sociedade.

Direção: Jim Mickle
Elenco: Michael C. Hall, Boyd Holbrook, Cleopatra Coleman, Bookem Woodbine

Assista ao trailer!

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