Crítica: Encontros

Estreia esta semana o longa francês Encontros, do diretor Cédric Klapisch (O Enigma Chinês) e ele é uma cuidadosa análise sobre como as relações interpessoais são interferidas por nossos traumas e a forma como nos portamos no mundo. Um pouco sem pretensão, o filme começa de maneira tranquila e vai evoluindo na conquista do espectador, que se vê encantado por todas as camadas trabalhadas.

Rémi (François Civil) é um jovem frustrado com seu trabalho que está na iminência de perder o emprego e pouco se importa com isso. Ele está sem vida, depressivo e sem objetivo para seguir. Já Mélanie (Ana Girardot) está vivendo uma catarse de emoções. Ela também está abalada com a vida, mas por conta de sua personalidade de viver os momentos intensamente e acabar se magoando com as pessoas ao seu redor.

A tensão inicial construída por Klapisch em Encontros que nos leva a crer que aquele é um filme de comédia romântica em que o casal principal vai se encontrar em algum momento é um dos elementos que sustenta a trama na primeira metade do longa. Ficamos constantemente nos perguntando em que circunstância se dará o aguardado encontro entre os dois e apostando que será de uma forma ou de outro.

A medida que a trama evolui e percebemos que aquele é um filme sobre emoções e sentimentos, muito mais um drama do que um romance, a união do casal se torna desnecessária. Os dois são muito diferentes, com personalidades distintas, o que mostra as possíveis intervenções que aquilo pode ter nas suas rotinas.

O plano principal é chegar no ponto da terapia, que é onde os fios começam a ser esmiuçados pelo enredo. A capacidade de se abrir para um desconhecido e falar sobre os pontos mais íntimos de sua vida parece um absurdo, especialmente para Rémi. Então é cuidadoso ver que o diretor coloca ele cheio de roupas e fechado no começo do processo terapêutico, evoluindo para um Rémi de camiseta ao final, quando está integrado e à vontade.

Além disso, a diferença de cores de cada personagem em Encontros, que equilibra e ressoa em suas personalidades, é um toque artístico cuidadoso e necessário inserido no longa. Isso se vale também para as emoções vivenciadas, como a paleta de tons pastéis do banho demorado de Mélanie, ou os tons chuvosos da terapia de Rémi.

Os momentos de riso funcionam não apenas como um respiro para a trama, como inserção de discurso. O filme nos convoca a rir das próprias dores, como forma de expurgar tudo aquilo que guardamos dentro de sim. Como uma maneira encontrada de se enxergar a vida com leveza.

Para atuações, temos as ótimas escolhas de François Civil (Quem Você Pensa que Sou) e Ana Girardot (Escobar – Paraíso Perdido) no papel da dupla principal. É incrível como eles conseguem ter uma excelente química e se contrapor nas atuações, mesmo não se cruzando a maior parte do longa. Eles conseguem transitar por todas as emoções que os papéis pedem, sem dificuldades e com maestria.

Além disso, Klapisch propõe que a solidão não deve ser encarada como um elemento negativo, como a maioria das pessoas imagina. Ela faz parte da vida, do autoconhecimento e da construção de personalidade de cada um. Estar só é importante para estar em conjunto.

O encontro que Encontros se refere no título, descobrimos ao final, é consigo mesmo. Num ritmo constante e conquistador, o filme vai se mostrando uma ótima visão da importância de terapia como ferramenta de descoberta e inserção no mundo. O objetivo é levar o conceito de que para estar bem em relações, sejam elas amorosas, amizades ou família, é preciso estar bem consigo mesmo.

Direção: Cédric Klapisch
Elenco: François Civil, Ana Girardot, Eye Haïdara, Rebecca Marder

Assista ao trailer!

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