Sibéria

Mostra de São Paulo: Sibéria

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Retornando para sua parceria com o ator Willem Dafoe (O Farol), o cineasta Abel Ferrara (Vício Frenético) traz um universo cheio de metáforas, intensidades e mergulho na mente de seu protagonista, em Sibéria. Em uma longa jornada, Clint (Dafoe) revisita seu passado e investiga marcas e danos provocados e sentidos durante a sua vida. Todo este percurso começa na isolada cabana de Clint, que fica em um local frio e melancólico. Para realizar esta ambientação, são intercalados planos gerais, que mostram as montanhas gélida e a paisagem inóspita, com um azul-esverdeado saturado, em quadros mais fechados, pouco iluminados, que trazem ações e detalhes de algumas expressões faciais.

Além disso, há uma contenção nas falas das personagens em uma parte considerável do filme. Isto ocorre até chegar uma quebra desta lógica, a partir da virada da narrativa, quando o longa passa a ser um tanto mais verborrágico. Há, após este novo momento da projeção, idas e vidas desta estrutura inicial. Outros tons na paleta de cores são convocados, mas estão sempre indo e voltado, a depender do estado em que Clint se encontra. Existe algo de extremo em Sibéria, que imprime sempre força no que deseja passar, seja nas fantasias que envolvem dor, agressividade, prazer ou susto; nas tonalidades totalmente frias ou quentes, casando com os sentimentos e/ou devaneios de Curtis; na mescla de bastante ou nenhum diálogo etc.

Entre os encontros deste homem perdido, a montagem trabalha em função desta exposição intensa de sentimentos e pensamentos, bem como deste caos impresso na tela. As sequências intercaladas são como o raciocínio de Clint. Ferrara também evoca estes fluxos através de movimentos de câmera que coloca em jogo os olhares externos com os de Clint. O diretor ainda utiliza os zooms para ampliar e diminuir  a solidão, traço tão marcante aqui. Apesar de orquestrar um contexto complexo, com aparentes camadas de profundidades que serão investigadas durante a projeção, há um limite para esta inventividade da produção que acaba por ficar empacada em suas próprias dinâmicas.

Sibéria

A partir do terceiro ato, principalmente, as possibilidades vão se esgotando e as repetições discursivas e imagéticas passam a acontecer. Sibéria não quer trazer algo conclusivo para o espectador e não precisa, porém não sustenta o próprio ciclo que criou. Resta um cansaço e uma sensação de tempo dilatado, deixando que uma sessão de uma hora em meia pareça ter três. Esta escassez criativa está igualmente em Williem Dafoe.

Ainda que entregue uma performance consciente, na qual é possível notar um estudo para seu papel, falta viço e até mesmo certa compreensão de quem é aquela personagem que ele está fazendo. É bem verdade que Dafoe explora a sua já conhecida versatilidade, criando diversos tons, corpos e movimentações. Contudo, o seu Clint apresenta um olhar perdido e gestos vacilantes, que não parecem frutos da sua construção de ator e sim uma dispersão de sentido.

Direção: Abel Ferrara

Elenco: Willem Dafoe, Dounia Sichov, Cristina Chiriac

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