Entre Nós Um Segredo

Mostra de São Paulo: Entre Nós, Um Segredo

2.5

Toumani Kouyaté e Beatriz Seigner (Los Silencios) se reúnem para trazer para as telas um enredo que evoca ancestralidades africanas e as raízes dos habitantes de Mali. O ponto de partida de Entre Nós, Um Segredo é um chamado do avô de Kouyaté. Ao sentir que está perto de falecer, ele convoca todos os membros da família que estão em outros países. O seu objetivo é contar o que ele acredita ser sua última história. Desde o início do filme, o público já começa a conhecer sobre as tradições e segredos da região.

Através de sequências que misturam entrevistas com o avô de Kouyaté, de relatos do próprio cineasta, com paisagens do local, interações, cerimônias, o cotidiano dos malinenses e uma narração de Seigner, cria-se um relato rico, mostrado de maneira dinâmica para o espectador. O conteúdo em si do documentário é necessário, pois contém um material grande sobre o passado, presente e futuro de Mali e da linhagem de djélis, contados de forma oral. Assim, aqui, há ainda um significado político na maneira como são colocados os relatos durante a exibição, trazendo justamente esta discussão sobre o que é de fato a passagem de conhecimento e as múltiplas possibilidades que esta ação pode se dar, a partir da cultura de uma pessoa ou uma nação.

Entre Nós Um Segredo

No entanto, apesar de possuir personagens ricas, localizações bonitas e contações que poderiam render consideravelmente, alguns pontos  de Entre Nós, Um Segredo são incômodos e afastam da obra quem a assiste. A primeira questão, e maior de todas, é a presença de Seigner. A falta de ligação aparente da cineasta com aquele contexto é distanciada e soa artificial. Talvez, este olhar de fora fosse algo desejado, mas isto acaba não casando com o tom do longa, trazendo quebras de atmosfera. Além disto, as intenções de texto impressas em sua narração são o auge desta inadequação que cria uma desconexão durante a fruição. É como se ela não compreendesse o que diz e como se aquele conteúdo precisasse ser explicado lentamente, como uma fábula. Novamente, esta estratégia poderia funcionar, mas, aqui, não dialoga com o restante da produção.

Outro quesito que salta aos olhos é a decupagem mal trabalhada. Muitas sequências não precisavam ser feitas em movimento, por exemplo. Em diversas passagens dentro de carros, a iluminação é fraca e /ou possuem pouca estabilidade para a câmera. Também se vê que a maioria dos enquadramentos não parecem pensados, cortando pedaços do corpo, principalmente deixando o plano sem respiro. Esta seleção não demonstra ser pensada ou casa com algo que é passado durante a projeção. Estes fatores são incômodos, mas não tiram a relevância de Entre Nós, Um Segredo que vale ser visto pelo o que conta, mesmo que perca sua força na execução um tanto truncada.

Direção: Toumani Kouyaté  e Beatriz Seigner

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