Sergio

Crítica: Sergio

Em 2003, o diplomata Sergio Vieira de Mello embarcou para Bagdá, em uma missão designada pela ONU (Organização das Nações Unidas). Durante sua estadia no local, ele acabou sendo uma das vítimas em atentado, no qual um homem bomba explodiu um caminhão lotado de explosivos no Hotel Canal, falecendo aos 55 anos. Esta história, supostamente, é o foco do novo filme da Netflix, protagonizado pelo brasileiro Wagner Moura (O Homem do Futuro) e dirigido por Greg Barker (Dentro de Casa: O Dilema do Contra-Terrorismo).

A ideia de contar um pouco da trajetória de uma figura considerada importante dentro das Nações Unidas é positiva. Ainda mais pelo fato de Barker já possuir um documentário que aborda a vida de Sergio, o que poderia dar uma propriedade maior ao cineasta em seu processo criativo. Contudo, não é isto que acontece aqui. O longa é, no geral, uma grande confusão narrativa, com atores perdidos, roteiro repetitivo e apelativo, maquiagem e caracterização artificiais, além de uma direção mal ajambrada. A quantidade de adjetivos negativos poderia ser mais extensa, mas estes são os pilares para os desastrosos – e, talvez, vergonhosos – resultados do filme.

Começando pelo texto, Samantha Power (Watchers of the Sky) e Craig Borten (Clube de Compras Dallas) vão além do período no qual de Mello estava em Bagdá e procuram mostrar outras épocas de sua vida. Misturando completamente as linhas temporais, os autores parecem se perder na escrita e trazem cenas que reiteram constantemente o que o público já sabe, seja em informações ou em emoções. Em certo ponto da exibição fica a sensação de que a dupla queria preencher os espaços para que a sua duração fosse mais extensa. Algumas sequências parecem as mesmas, mas em locais distintos.

Os diálogos são quase idênticos, as situações também. Isto poderia ser evitado se eles escolhessem uma linha específica da trama e procurassem desenvolva-las, fazendo uma pesquisa mais cuidadosa para contar mais sobre a personagem e deixá-lo menos planificado. A estratégia das idas e vindas é bem-vinda, se bem executada. Se a estrutura está confusa, a simplificação acaba sendo uma escolha mais certeira. 

Além da estafa pela repetição, Borten e Power tentam fazer com que espectador se debulhe em lágrimas, com frases de efeito. No entanto, somente o constrangimento fica, porque são sentenças piegas, como em determinada cena onde Sergio diz que quer cair do céu como se fosse chuva. Ou quando de Mello diz duas vezes “Vá para casa, meu amigo”, com uma pausa de quase dez segundos entre cada repetição. Não tão tem nenhuma razão prática para estes momentos acontecerem. Esta busca de traço poético, digamos assim, não foi foi algo construído previamente na personalidade do protagonista e nem servem para o que vem depois. Tão pouco são ditas com verdade cênica ou possuem algum efeito estético que pudesse transformar estes instantes em algo especiais. São as mesmas luzes e os mesmos enquadramentos. O que não casa com o tom do filme.

Esta artificialidade também está presente nas interpretações. Moura que, geralmente, entrega bons resultados, parece engessado e tenso durante seu tempo de tela em Sergio. Com o corpo enrijecido e um sorriso robótico, o intérprete demonstra desconforto com a construção de sua personagem. Ele não consegue controlar as suas pausas dramáticas e seus olhos arregalados, principalmente quando fala em inglês e precisa demonstrar intensidade. O ator também não joga na contracena, na maioria das vezes, evitando contato visual e perde de criar boas dinâmicas com seus colegas de trabalho por deixar a conexão das intenções de lado. A única pareceria que funciona mais é a que ele fez com Ana de Armas (Entre Facas e Segredos), seu par romântico na história.

O tom fake impregna também os maquiadores da equipe. Alguns momentos que deveriam ser tensos são quase risíveis. É notável que o sangue e a poeira foram cuidadosamente colocados nas roupas e no corpo do elenco. Se a direção fosse mais atenta e talentosa, estes elementos negativos teriam sido resolvidos, mas, claro, Barker ainda complementa a fraqueza de sua obra com enquadramentos não pensados. Ele poderia ter buscado criar algum sentido para os planos sem respiro ou cheios de teto, porque eles não parecem estar lá com algum objetivo. Se fosse em uma cena de tensão poderia soar proposital, mas, tudo tem um aspecto caótico, de descaso. Ainda mais quando a fotografia é de Adrian Teijido (O Palhaço).

Direção: Greg Barker

Elenco: Wagner Moura, Ana de Armas, Brían F. O’Byrne, Garret Dillahunt

Assista ao trailer!