Pássaro do Oriente

Crítica: Pássaro do Oriente

Pássaro do Oriente (Earthquake Bird) é um constante embate cultural. Em um Japão dos anos 80, a estrangeira Lucy Fly (Alicia Vikander, Tomb Raider – A Origem) vive como tradutora. Certo dia, ela é chamada para prestar um depoimento sobre o desparecimento de Lily (Riley Keough, Ao Cair da Noite), outra forasteira. Assim, a estrutura narrativa vai se intercalando entre presente e passado. Antes de se tornar suspeita, Lucy namorava o introspectivo fotógrafo Teiji (Naoki Kobayashi, famoso cantor de J-Pop), até que Lily entra na vida dos dois e deixa aquele relacionamento bem conturbado.

Dirigido por Wash Westmoreland (Para Sempre Alice, Colette), Pássaro do Oriente é, em uma camada mais superficial, um suspense bem vago e prolixo sobre o sumiço de uma pessoa. Contudo, isto se torna apenas um mero detalhe diante do jogo de hipnotismo que o filme trabalha. Há toda essa áurea mística envolvendo o personagem de Teiji e a própria Lily não sabe dizer o motivo de estar com ele. Afinal, é até meio óbvio que não é uma boa ideia se relacionar com uma pessoa que começa a tirar fotos suas na rua e vive isolada em um apartamento escuro. Acaba que, para a protagonista, estar diante deste homem exótico é fascinante.

Contrapondo-se ao exotismo e calmaria de Teiji, Lily é a personificação de uma personalidade ocidental mais inquietante e curiosa. Esse jogo de opostos funciona em prol do conflito identitário de Lucy Fly, que é perseguida por seu passado, mas quer seguir uma nova vida. Aliás, dualidade que está presente desde os créditos inicias, quando o nome dos atores aparecem tanto em inglês quanto na língua local.

É esta camada que ressignifica toda a ação em Pássaro do Oriente. A dança entre Lily e Teiji, por exemplo, vira mais do que um movimento rítmico. Torna-se a harmonização daquelas personalidades, que são duas faces de uma mesma moeda — Lucy. Neste sentido, Vikander, Keough e Kobayashi fazem performances muito comprometidas com a unidimensionalidade de seus personagens, especialmente o último que, de fato, é de uma presença silenciosa assustadora.

No entanto, o roteiro se perde um pouco na própria sofisticação e embelezamento de seu mistério. Todo esse fatalismo sobre Lucy atrair a morte ao seu redor nunca encontra sintonia com o resto da história. Está solto ali, apenas para trazer mais uma falsa-camada de profundidade para a personagem. Quanto ao subtexto da fotografia, até que faz muito sentido com o progredir da história. Em um certo momento, Teije afirma que a pessoa que é fotografada sempre deixa um pedaço de sua alma para seu fotógrafo. Não deixa de ser isso que acontece com o passar do tempo, com a paranoia tomando conta da personagem e a perda de sua essência. Assim, é como se ele sugasse sua sanidade através daquelas fotos.

Por fim, Pássaro do Oriente acaba sofrendo a máxima daquele ditado: “é melhor um pássaro na mão do que dois voando”. Os créditos surgem e não parece ficar claro do que o filme está falando.

Diretor: Wash Westmoreland

Elenco: Alicia Vikander, Riley Keough, Naoki Kobayashi, Jack Huston

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