O Tigre Branco

Crítica: O Tigre Branco (Netflix)

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Baseado no livro homônimo, de Aravind Adiga, O Tigre Branco narra a trajetória de um empresário indiano, que não mede esforços ou estratégias para chegar onde deseja. Através de uma narração do protagonista, idas e vindas de sua história são mostradas em mais de duas horas de projeção. Talvez, grande questão neste indicado ao Oscar 2021 de Melhor Roteiro Adaptado aqui seja como há uma sensação de desequilíbrio narrativo, pois algumas situações são prolongadas demasiadamente, enquanto o ponto de virada acontece já no terceiro ato. Desta maneira, há uma dificuldade em desenvolver o seu desfecho e é preciso correr para alcançar a conclusão.

Existe, também, o fato de que há uma prolixidade inserida na trama. O arco de Balram (Adarsh Gourav) é apresentado, trazendo fatos importantes de sua vida, como a sua infância ou a partida da vila na qual mora. A partir da sua ida para a capital, as sequências passam a se tornar repetitivas. O público consegue compreender as sensações de Balram, diante da falta de escrúpulos dos ricos e da crueldade do sistema social indiano. Assim, cenas com objetivos semelhantes são recorrentes, enxugá-las poderia ajudar na dinâmica da obra, deixando ela menos arrastada. Além disso, alguns saídas e resoluções são abruptas, como o retorno de Pinky para Nova Iorque. Neste esgarçamento ou nestas rupturas súbitas, o ritmo não se estabelece apropriadamente.

O Tigre Branco

No entanto, alguns elementos em O Tigre Branco saltam aos olhos positivamente e tornam a sessão mais agradável. A principal delas é a atuação de Adarsh Gourav. Consciente das emoções que Balram busca exteriorizar e quais são os seus reais sentimentos, Adarsh revela uma criação complexa de personagem. Dosando os seus gestos, olhares e respirações, há no intérprete um equilíbrio de velocidades impressas no corpo e nas tonalidades do texto falado. As nuances nas modificações do tônus corporal faz com que o espectador reconheça quando ele está com ou sem as máscaras criadas por Balram, para a sobrevivência no mundo cruel.

Outro ponto que pode ser destacado é a consciência da direção em elevar a potência das circunstâncias postas no enredo. A decupagem acaba por trazer uma proximidade ou um afastamento em quem assiste a produção. Em alguns momentos, é como se fosse visto o olhar de Balram. Em outros,  é possível encontrar uma criação de distanciamento e até certo julgamento em relação à personagem é posto. Ainda que narrado em primeira pessoa e todo o acontecimento seja sob a perspectiva do protagonista, a câmera se distancia, fazendo com que reste esta impressão de observação externa.

Com elementos bem construídos, mas um roteiro mal resolvido, O Tigre Branco vale por tratar de problemáticas éticas e morais não apenas de uma país, mas do mundo como um todo. Mesmo que seja cansativo chegar até o fim da exibição!

Direção: Ramin Bahrani

Elenco: Adarsh Gourav, Rajkummar Rao, Priyanka Chopra

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