O Clube de Leitores Assassinos

Crítica: O Clube de Leitores Assassinos

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Em uma cena de O Clube de Leitores Assassinos, uma das personagens centrais do filme defende avidamente o valor das fanfics na produção literária atual. A defesa da personagem soa na verdade como uma argumentação do próprio filme a respeito da maneira como ele lida com a reverência constante a clássicos do gênero slasher do qual ele é mais um exemplar.

Produção original da Netflix, O Clube de Leitores Assassinos é criação dos espanhóis Carlos Alonso Ojea (diretor) e Carlos García Miranda (roteirista). De cara, é possível notar como o longa tem como inspiração a franquia Pânico de Wes Craven que, de fato, em 1996 inovou com toda a sua metalinguagem e superou as expectativas de muitos fãs do gênero.

O Clube de Leitores Assassinos quer exatamente aquilo que Craven conquistou com Pânico na década de 1990, aparentando muitas vezes querer ir além no tratamento dessa abordagem quando a própria franquia mencionada já esgarçou seus horizontes de metalinguagem. Em dado momento, por exemplo, O Clube dos Leitores Assassinos aborda a própria lógica de adaptações, remakes, reboots e séries cinematográficas, não acrescentando nada à abordagem que os recentes exemplares de Pânico já não tenham feito melhor. Contudo, aqui, parece existir uma crença de que tudo é desenvolvido com uma originalidade latente e nesse ponto esse slasher original da Netflix peca bastante.

O Clube de Leitores Assassinos

Na história, um grupo de estudantes universitários integrantes de um clube do livro dedicado ao gênero horror se vê investido em uma trama de vingança contra um professor que assedia e tenta estuprar uma de suas amigas. De repente, o que seria uma brincadeira para assustar o professor assediador acaba colocando o grupo de jovens na mira de um serial killer. A cada vítima que o assassino faz, ele posta um relato da sua ação na forma de um capítulo de fanfic na internet para ser lido pelos demais integrantes do clube e potenciais próximos alvos.

O Clube dos Leitores Assassinos tem ideias interessantes, mas em muitos momentos ele sofre com esta posição incerta que ele tem diante das diversas referências que possui. Em muitos momentos, ficamos na dúvida se o longa, na verdade, não usa suas referências como “escudo” contra qualquer eventual percepção de que, no fim das contas, O Clube dos Leitores Assassinos nem é tão genial assim quanto se vende e que, na verdade, é um grande “copia e cola” de outros filmes. Isso seria irrelevante se tivermos como parâmetro boa parte das produções do gênero slasher que, em dado momento, pecaram pela excessiva similaridade dos seus exemplares. No entanto, quando a principal referência é a anarquia e a auto-consciência de Pânico, o filme deixa o território da “metalinguagem genial” de lado e se revela um rascunho do roteiro do filme de Wes Craven, incluindo aqui todas as reviravoltas, revelações e menções à própria indústria do entretenimento.

O Clube de Leitores Assassinos tem até uma direção interessante da parte de Carlos Alonso Ojea. O diretor sabe como apresentar cada um dos integrantes do elenco de maneira concisa e satisfatória, não deixando nenhum dos seus personagens de lado. Ao mesmo tempo, alguns detalhes são notáveis, como a iluminação vermelha da tela do celular que toma o rosto de cada um dos integrantes do clube no momento em que descobrem que são alvos do serial killer do filme. No entanto, essa sensação de “cópia” de segunda linha de Pânico que o filme acaba transmitindo o impede de seguir seus rumos com mais personalidade, algo que lhe faria tão bem e tornaria a experiência do espectador mais satisfatória, sobretudo aqueles mais “escolados” em slashers.

Direção: Carlos Alonso Ojea

Elenco: Veki Velilla, Álvaro Mel, Priscilla Delgado

Assista ao trailer!