Crítica: Jogador nº 1

Baseado no romance homônimo de Ernest Cline, Jogador nº 1 é o retorno de Steven Spielberg na direção depois de três meses do lançamento de The Post: A Guerra Secreta. Diferente da trama politicamente engajada do filme indicado ao Oscar protagonizado por Meryl Streep e Tom Hanks, Jogador nº 1 é um exemplar da carreira do diretor que faz jus àquilo que ele sabe fazer melhor e pelo que acabou ganhando notoriedade mundial: trata-se de uma aventura escapista repleta de efeitos especiais de ponta dosada pelo olhar ingênuo do diretor para esse tipo de material com ares oitentistas, uma geração blockbuster que o próprio cineasta ajudou a construir sua gramática. Na essência, o longa surge como uma fita distópica protagonizada por um adolescente, que, por sua vez, remete à geração de best-sellers Jogos VorazesMaze Runner ou Divergente, mas o diretor acaba sofisticando ligeiramente o material com os toques que somente ele consegue dar para esse tipo de produção.

Em Jogador nº 1 somos apresentados a um mundo obcecado pela realidade virtual do OASIS, um jogo de computador criado pelo gênio Halliday, uma espécie de Steve Jobs daquele universo. Com cada jogador vivendo quase que exclusivamente a vida dos seus respectivos avatares nas realidades propostas pelo jogo, os players acabam tomando para si a missão de encontrar três chaves escondidas que os levarão a um valioso easter egg. As pistas foram pensadas pelo próprio Halliday antes de falecer, deixando como recompensa final para o jogador que desvendar o mistério toda a sua fortuna.

Há um grande vilão ao longo de todo o filme, uma corporação chamada IOI que passa a ter como intuido controlar o legado de Halliday. É contra esse gigante que o jovem protagonista do filme interpretado por Tye Sheridan (de Amor Bandido X-Men: Apocalipse) tem que lutar. O herói da história sugere uma empatia imediata com o espectador, um pobre orfão que vive uma vida repleta de privações com sua tia e seu desagradável e violento namorado. Todos esses elementos são desenvolvidos com uma certa superficialidade pelo filme. A jornada do protagonista, apesar de evocar uma certa emoção, não consegue ir mais a fundo na construção do seu personagem e das suas relações, ficando nas costas do simpático Tye Sheridan o interesse na trama – e olha que em boa parte da história o acompanhamos como um avatar. Já a trama da grande corporação em oposição à população oprimida que vive àquela realidade virtual também tem seu lugar, mas tem seus melhores momentos quando aborda de maneira incisiva como esses grandes executivos acabam “engolindo” iniciativas afetivas como a de Halliday através da OASIS.

O grande atrativo de Jogador nº 1 acaba sendo mesmo a aventura protagonizada pelos personagens do filme na realidade virtual, onde Spielberg e o romancista Ernest Cline inserem uma série de referências à cultura pop, de Motal KombatStreet FighterO IluminadoO Gigante de Ferro, passando ainda pelo Atari, OverwatchDe Volta para o FuturoKing Kong e a autorreferência Jurassic Park. Todas as menções não estão na trama de maneira aleatória. Ao serem inseridas exclusivamente no universo de um game criado por um um fã de todos esses produtos, Jogador nº 1 se transforma numa interessante mistura de crossovers. Nesse departamento, o filme de Spielberg não só evidencia um apuro técnico de ponta como também exibe um grande valor como entretenimento. Assim, a recomendação é deixar-se levar por toda a diversão que Jogador nº1 tem o potencial de proporcionar.

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