I Wanna Dance With Somebody: A História de Whitney Houston (2022)
Naomi Ackie em cena de I Wanna Dance With Somebody: A História de Whitney Houston (2022)

Crítica: I Wanna Dance With Somebody – A História de Whitney Houston

2.2

O som é um dos elementos fundamentais na elaboração de um filme. Dentro deste universo, a trilha sonora é um dos maiores atrativos para o público – seja ele crítico ou leigo. Sob essa lógica, musicais, em teoria, alcançam o ápice do uso desse importante elemento cinematográfico. Mas o que é melhor do que um musical feito a partir de músicas conhecidas e amadas pelo público? Daí vem o sucesso das inúmeras cinebiografias musicais produzidas nos últimos anos. De 2018 para cá, seis grandes produções hollywoodianas foram feitas dentro desse subgênero e levaram centenas de milhares de espectadores às salas de cinema.

Começando pelo estrondoso sucesso de público, Bohemian Rhapsody (2018) recuperou o fôlego das cinebiografias musicais que estavam em baixa desde o final dos anos 2000. Após a história do Queen, vieram outros conhecidos nomes da música internacional como Elton John e Judy Garland. Na tentativa de acompanhar o fervor gerado por cinebiografias musicais como Judy: Muito Além do Arco-Íris (2019), Rocketman (2019), Respect: A História de Aretha Franklin (2021) e, mais recentemente, Elvis (2022), I Wanna Dance With Somebody: A História de Whitney Houston chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (12).

O longa-metragem sobre uma das vozes que mais impactaram a música na história dos Estados Unidos tem alguns problemas já conhecidos pelo público. I Wanna Dance With Somebody carrega as mesmas falhas que o filme do Queen apresentou em 2018. Ambos os longas foram escritos pelo roteirista Anthony McCarten (O Destino de uma Nação, de 2017, e Dois Papas, de 2019) e seguem uma lógica onde os eventos da vida dos artistas são acessórios para a utilização de suas famosas canções.

A escolha de priorizar a força das músicas de Whitney em detrimento de uma construção narrativa bem aprofundada atrapalha o desempenho do filme. No lugar de desenvolver os dilemas vividos pela artista, I Wanna Dance With Somebody utiliza esses fragmentos da vida da cantora quase somente para conectar as canções. Não se vê a potência de suas experiências (boas ou ruins) com a mesma força e relevância que a produção dá aos números musicais.

I Wanna Dance With Somebody: A História de Whitney Houston (2022)
Naomi Ackie em cena de I Wanna Dance With Somebody: A História de Whitney Houston (2022)

Questões latentes vividas por Whitney como  o seu relacionamento tóxico com o ex marido, sua autocobrança por ter que ser “A Voz” da música pop da época ou seu problema com drogas não são devidamente explorados, o que acaba enfraquecendo o potencial do projeto. Somado a isso, a direção também falha em trazer personalidade para a produção. A forma como Kasi Lemmons conduz I Wanna Dance With Somebody soa distante. Diferente do que ela fez em Harriet: O Caminho para a Liberdade (2019), a atriz e diretora não consegue impor a sua marca.

Além disso, existem algumas escolhas de planos e enquadramentos incompreensíveis. Em diversas passagens, o espectador tem a sensação de estar assistindo um documentário de bastidores da vida de Whitney. Essas imagens surgem sem nenhum contato ou proximidade com a personalidade que está sendo descrita em cena. As sequências soam ainda mais estranhas quando reunidas com os outros deslizes já descritos de I Wanna Dance With Somebody, como na cena em que Whitney descobre que seu pai está hospitalizado.

No meio desses problemas, o longa tem momentos de brilho graças ao seu elenco. É evidente que as canções são os pontos altos de I Wanna Dance With Somebody, mas o trabalho de Naomi Ackie (Lady Macbeth, de 2016, e Star Wars: Episódio IX – A Ascensão Skywalker, de 2019), Stanley Tucci (A Bela e a Fera, de 2017, e O Silêncio, de 2019) e Tamara Tunie (O Voo, de 2012) se destaca. Apesar do mal aproveitamento dos momentos dramáticos da narrativa, o desempenho de Naomi como Whitney é divertido de se ver. Da mesma forma, Tucci e Tamara conseguem entregar momentos mais intensos – dentro das limitações do roteiro – ao público.

Focar nas músicas funciona como um agrado mais imediato ao subconsciente do espectador, mas isso é mérito da voz de Whitney e não do filme. Na contramão do que faz Elvis, I Wanna Dance With Somebodysegue uma linha fácil de sucesso. A produção é divertida, mas excessivamente longa e sem muito impacto. As quase 2h30 de duração poderiam ser trocadas por uma boa pesquisa sobre a vida da artistas e uma playlist com os maiores sucessos da cantora. Infelizmente a grande “Voz” não teve o filme que a sua grandiosidade artística merecia.

Direção: Kasi Lemmons

Elenco: Naomi Ackie, Stanley Tucci, Ashton Sanders, Tamara Tunie, Nafessa Williams e Clarke Peters

Assista ao trailer!