Judy - Muito Além do Arco-Íris

Crítica: Judy – Muito Além do Arco-Íris

Renée Zellweger (O Bebê de Bridget Jones) é a favorita para ganhar o Oscar 2020 de melhor atriz por interpretar Judy Garland em Judy – Muito Além do Arco-Íris, filme que narra o último ano na vida da artista que ficou célebre ainda criança ao protagonizar O Mágico de Oz, mas foi sugada até a medula por uma indústria que exigiu dela juventude, beleza e talento. De certa maneira, a trajetória de Zellweger e Garland se encontram quando pensamos como a atriz, um dos nomes mais importantes do início dos anos 2000 por seu trabalho em filmes como O Diário de Bridget Jones, Chicago e Cold Mountain, foi demandada o quanto pôde por Hollywood, cedendo inclusive aos apelos de perfeição estética, com suas já reconhecidas intervenções plásticas, e depois foi descartada e ridicularizada por esse mesmo sistema que a criou.

Zellweger se retirou de cena e em recente entrevista declarou ter passado por um período de depressão, o que a fez se submeter a uma espécie de rehab de Hollywood. Assim como Garland, Zellweger absorveu as consequências do que é para uma mulher envelhecer na indústria do entretenimento e, nesse sentido, não há como assistir à cena final de Judy, olhar para o melancólico desfecho da sua protagonista, e também não pensar que na tela estamos vendo uma grande atriz no auge da sua experiência, dando tudo de si em uma performance que marca em definitivo o seu merecido retorno aos grandes holofotes. A narrativa de comeback de Renée Zellweger nesse Oscar é construída como uma espécie de compensação das faltas de Hollywood com Judy Garland.

Judy – Muito Além do Arco-Íris não é um filme perfeito e nem a interpretação de Zellweger é, mas a maneira como a atriz se entrega em cena, cobrindo algumas faltas do seu roteiro e dando o melhor de si é absolutamente admirável. O diretor Rupert Goold dirige uma história que simplifica a biografia de Garland a duas passagens notórias da sua vida: os primeiros passos da atriz mirim, regulada pelos olhos dos produtores de Hollywood, da imprensa e da sua mãe; e sua conturbada passagem pelos palcos de Londres aos 46 anos de idade, lidando com todas as sequelas da sua juventude, as crises de ansiedade, a depressão e o vício em álcool.

Judy - Muito Além do Arco-Íris

No primeiro feixe narrativo, Judy acerta pelo primor plástico da sua propositalmente artificial direção de arte que remete a coloridos sets da era de ouro de Hollywood. No entanto, aqui, peca por girar em círculos com temas como a cultura das celebridades e os efeitos nocivos em jovens estrelas sem nunca se aprofundar bastante no tópico. Esses flashbacks de Judy até que são marcados por boas intenções, com um tom maior de inventividade e até fantasia, mas as sequências são encenadas com um pouco de ingenuidade da parte de Rupert Gold.

O melhor de Judy está mesmo na fase madura de Garland porque o show é completamente de Renée. O que é mais fascinante no desempenho de Renée em Judy é a maneira como a atriz se realiza nas performances da sua protagonista, condensando emoções difíceis e complexas em sua interpretação musical. Os melhores momentos do longa são aqueles que percebemos como Zellweger incorpora Garland em trejeitos, sobretudo quando a artista está nos palcos, sem abandonar as assinaturas usuais das suas performances, para muitos estridente e cheia de maneirismos. Caso o trabalho de Zellweger te incomode justamente por essas marcas, pode esquecer que Judy o fará vê-la de outra forma porque, apesar do esforço de “se apagar” na composição da personagem, segue sendo uma interpretação com a assinatura de Renée.

Judy – Muito Além do Arco-Íris é um filme que tem intenções nobres, mas simplifica a exposição da sua crítica e do seu estudo de personagem às usuais headlines: a mídia gananciosa e Hollywood sugam o quanto podem o viço das suas estrelas. Há muito mais camadas na biografia de Garland que isso e o longa poderia explorá-las, mas não o faz, anda em círculos com essa construção. Renée Zellweger, por sua vez, entrega tudo de si, captando a alma da artista biografada. A esperança que fica é que histórias como as de Garland não se repitam e que a consagração de Zellweger não se restrinja a essa narrativa de comeback em 2019-2020, nos apresentando agora, quando a atriz está chegando na casa dos cinquenta anos, todo um horizonte a ser explorado pelo seu já mais do que comprovado talento.

Direção: Rupert Goold
Elenco: Renée Zellweger, Finn Wittrock, Jessie Buckley, Rufus Sewell, Michael Gambon, Darci Shaw, Richard Cordery, Royce Pierreson

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