Crítica: Rocketman

Quando um filme como Rocketman é lançado logo após e muito próximo de outro semelhante, a comparação é inevitável. Seja na criação de expectativas ou até mesmo no resultado do produto. Então é natural que a pessoa vá ao cinema esperando ou temendo algo como Bohemian Rhapsody. Felizmente, o resultado é muito diferente e de uma maneira positiva.

Elton John é um ícone da música e tem uma história cheia de percalços que valem a pena serem contados. Sendo assim, o filme se propõe a explanar de maneira sincera a trajetória do músico, desde sua infância até o auge de sua carreira e momentâneo declínio. Tudo isso sob uma ótica psicológica.

Já ouvimos falar de um roteiro semelhante, não é? Então, Bohemian Rhapsody é justamente a mesma coisa, só que contando a história da banda Queen, com foco em seu vocalista Freddie Mercury.E entendam: eu não odeio Bohemian. Mas os problemas de mudança de diretores ficaram claros no ritmo do longa e na atuação afetada de Rami Malek.

Diferente disso, temos Rocketman, que é um longa musical. Sim, um musical. Ele não conta a história de composição das músicas, e sim as utiliza como pano de fundo para a narrativa do protagonista, que vai contando a sua própria história. E o viés da psicologia é que torna tudo mais palatável para o espectador

Taron Egerton (Kingsman) surge como uma grata surpresa na pele de Elton, assumindo todo o seu estilo e trejeitos, mas respeitando o espaço que o personagem pede. Ele foi orientado pelo próprio cantor, o que faz uma imensa diferença. Aliás, o fato do Elton John da vida real assumir a produção executiva é decisivo para o bom resultado do longa. Ele traz a realidade de maneira crua e, embora não vá tão afundo em questões como a dependência química, não se esquiva de mostrar todos os seus traumas em cena.

Curiosamente, o diretor Dexter Fletcher (Voando Alto) participou da produção executiva de Bohemian, o que nos leva a crer que ele pode observar os erros do primeiro e não aplicar no segundo. A direção é segura e crescente, dando espaço para os personagens, sem perder o foco no protagonista, que é um espetáculo à parte. Ele não deixa de falar de tema importantes como o vício em álcool e drogas, e a homossexualidade do cantor.

Além disso, outro fator importante e decisivo para o resultado do longa é o fato de que acompanhamos a história através do próprio protagonista, contando tudo em uma clínica de reabilitação. Sendo assim, temos dois fatores: primeiro, que entendemos que tudo aquilo é uma visão dele dos fatos; segundo, que a evolução dele na trama é amparada pelo cuidado psicológico, que justifica sua mudança de comportamento.

Ao final de Rocketman, temos uma das cenas mais bonitas de todo o filme e recheada de significados, que é quando Elton adulto abraça o Elton criança e entende todos os traumas emocionais que ele tem, mas decide seguir no seu “eu adulto”. É lindo e comovente, além de extremamente coerente.

Percebemos com esse longa que por trás do astro, existe um ser humano comum e com traumas. Com um passado emocional difícil e que ser irreverente do jeito que é foi a forma que ele encontrou para pertencer ao mundo. O filme rompe um pouco a narrativa nos momentos de música, que ficam mais no âmbito da fantasia, mas mantendo o enredo e a construção do personagem.

Mesmo quem não é um grande fã de Elton John e apenas conhece as suas principais músicas, vai gostar de conhecer e acompanhar a trajetória do astro, criando empatia pela figura dele. Rocketman é um musical redondo, de qualidade e que merece ser apreciado.

Direção: Dexter Fletcher
Elenco: Taron Egerton, Jamie Bell, Richard Madden, Bryce Dallas Howard, Gemma Jones, Stephen Graham, Tom Bennett

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