Crítica: Hebe – A Estrela do Brasil

Em um ano que já nos ofertou a cinebiografia Simonal, sobre o cantor de sucesso que caiu no esquecimento, Hebe – A Estrela do Brasil chega com a promessa de falar um pouco mais sobre a maior apresentadora brasileira de todos os tempos. O peso da protagonista era grande, mas o diretor Maurício Farias (Vai Que Dá Certo) conseguiu fazer um bom recorte de sua história.

Com foco na Hebe Camargo de meia idade que sofria com a intervenção da ditadura militar e sua censura, o filme opta por não aprofundar no surgimento dela como apresentadora. Já é fato consumado no início da trama que ela é uma artista que atrai os olhares do telespectador e que tem importância de opinião para o público. Com essa premissa, o que aconteceu no passado é apenas pincelado ao longo da trama. O que é um bom acerto.

A medida que a história vai evoluindo, algumas camadas de Hebe vão sendo mostradas. Seu amor pelo filho e pelo sobrinho, sua relação inconstante com o marido, sua paixão por joias. A autenticidade e personalidade forte permeiam todos os momentos, mostrando que essa irreverência tem um custo, mas que ela está disposta a pagar.

Ainda assim, o longa também mostra que Hebe, embora bem à frente do seu tempo, se permitia aceitar padrões antigos. Isso fica muito claro no jantar de Natal em que ela recebe Paulo Maluf em sua casa e conta uma piada machista. É como se ela nadasse contra a maré, mas estivesse, invariavelmente, imersa naqueles pensamentos antiquados. O que, na verdade, ajuda a validar toda a sua luta em cena, já que mostra que ela conseguiu pensar fora da caixa, mesmo sem conseguir efetivamente sair da caixa.

O grande trunfo de Hebe – A Estrela do Brasil é realmente Andréa Beltrão (Albatroz), que tem uma energia magnética em todos os momentos que aparece. É como se a cena trouxesse o foco sempre para ela, ou para Hebe. Essas nuances acabam se misturando a todo momento, o que é uma característica muito positiva. Embora ela faça uma ótima Hebe, consegue manter a sua personalidade e trazer muito de si para a personagem. A dosagem perfeita para uma protagonista deste quilate.

O filme, por conta de seu recorte específico, não deixa espaço para faltas. O espectador mais atento pode perceber que alguns fios ficaram soltos ao longo da trama, mas o objetivo não era de responder todas as questões. Ao que soa, Maurício Farias queria mostrar um momento importante da vida de Hebe Camargo, mostrar sua personalidade, a mulher forte e a representatividade no cenário nacional. E assim foi feito e com maestria.

Direção: Maurício Farias
Elenco: Andréa Beltrão, Marco Ricca, Danton Mello, Daniel Boaventura, Caio Horowicz, Gabriel Braga Nunes, Stella Miranda, Felipe Rocha, Otávio Augusto, Karine Teles, Ivo Müller

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