Fora de Série

Crítica: Fora de Série

Tanto clássicos como Clube dos Cinco e Curtindo As Férias Adoidado ou projetos mais recentes como Superbad, Quase 18, Oitava Série, Com Amor, Simon são extremamente aclamados. O cinema, em sua essência, é uma arte jovem, sempre se reinventando e buscando evoluir. Da mesma forma, o gênero de amadurecimento (coming-of-age em inglês) adolescente está passando por mudanças. Juntando-se a lista acima, Fora de Série é mais um furto do coming-of-age, trazendo um novo frescor à categoria e fugindo do clichê.

Primeiramente, uma pergunta: quantos filme você já assistiu sobre meninos nerds que nunca curtiram o Ensino Médio e decidem dar a louca (e perder o BV) antes de irem para a faculdade? Alguns. Em contraste à essa tendência do protagonismo masculino nesse tipo de situação, Fora de Série traz Molly (Beanie Feldstein, Lady Bird – A Hora de Voar e irmã de Jonah Hill) e Amy (Kaitlyn Dever, Inacreditável).

Juntas, elas formam uma dupla de militantes, socialmente engajadas e que dedicaram toda sua adolescência aos estudos. Após descobrir que todos os outros alunos da escola — os festeiros e baderneiros — foram aprovados em grandes faculdades, Molly surta. Assim, as meninas decidem curtir em uma noite o que não curtiram durante todo o Ensino Médio. O problema? Elas não sabem o endereço da festa que será dada um dia antes da formatura.

Além de inverter gêneros, o roteiro também faz uma genial subversão de expectativas ao colocar Amy e Molly como as verdadeiras pessoas que fazem pré julgamentos naquele mundo. Molly constantemente sente-se superior ao colocar seus colegas em papéis estereotipados como: a menina que fica com todos os meninos é burra; o rapaz só é vice-presidente do Conselho para ser popular; os pichadores de desenhos fálicos em todos os muros da escola são idiotas. No mundo paralelo da estudante, não há como essas pessoas serem merecedoras de uma aceitação em grandes faculdades. O crime delas? Ter uma vida fora da escola.Fora de Série

Seguindo a visão completamente deturpada de mundo de Molly, a diretora Olivia Wilde cria um universo marcado pelo exagero em sua estreia. Logo na primeira cena de Fora de Série, enquanto as protagonistas, de semblante sério, cruzam o corredor da escola, todos os outros estudantes estão festejando o último dia de aula. Igualmente, o diretor do colégio fecha a porta de seu escritório no rosto das meninas quando elas tentam falar sobre uma questão orçamentária com ele. Assim, somos colocado sob o ponto de vista de Molly e acreditamos que mais ninguém parece se importar com os assuntos mais sérios.

Outro mérito de Wilde está na forma como a diretora usa dessa cosmologia do exagero para expandir o tempo sem soar inverossímil. Afinal, essa é a noite da vida das protagonistas e, portanto, em suas cabeças, deve ser um momento marcante. Mais do que isso, elas querem que seja eterno. Assim, o filme leva a dupla para diversas localizações diferentes em mini-aventuras, algo que não seria plausível em um curto espaço de tempo.

Na direção, Wilde mostra personalidade em diversas sequências, não só quando treme a câmera para acompanhar um ataque de ansiedade de Molly, como também no poético mergulho de Amy na piscina, em um momento de descoberta para a personagem. Além disso, há o uso de um longo plano-sequência que reflete o sentimento de isolamento de uma das meninas durante a festa, culminando em um dos momentos chaves de Fora de Série.

Aliás, não há como esquecer que estamos falando de um filme adolescente. Logo, o roteiro possui uma veia cômica muito forte, principalmente pela ultra problematização das protagonistas, o que não deixa de ser uma oportunidade para realmente fazer críticas sociais, como na discussão sobre contribuir para a indústria do pornô, que é, ao mesmo tempo hilária e ácida.

Portanto, como o humor de Fora de Série se pauta muito nos diálogos, o timing cômico de Dever e Feldstein é perfeito e, juntas, demonstram uma grande química, passando a sensação de que se conhecem há anos. Feldstein é mais hiperativa e faz caras e bocas, além de carregar um enorme potencial dramático quando os acontecimentos exigem mais da personagem. De personalidade oposta, Dever é mais tímida e passa por uma bonita jornada de autoconhecimento. Já no elenco secundário, quem merece menção é Gigi (Billie Lourd, Star Wars: Despertar da Força), hilária e surtada.

Mostrando que é possível fazer humor sem ser desrespeitoso, Booksmart transcende essa camada. É um convite a todos que criam pré-concepções de alguma pessoa que mal conhecem;  aos que valorizam uma amizade verdadeir; e para falar sobre sexualidade de maneira natural. Por mais que não condene aqueles que escolhem passar a vida estudando, o filme mostra que não há nada de errado com aqueles que preferiram se dedicar a outras atividades. Afinal, ser adolescente é isto. Rebeldia, impulsividade, exploração. 

Direção: Olivia Wilde
Elenco: Kaitlyn Dever, Beanie Feldstein, Billie Lourd, Lisa Kudrow, Will Forte

Assista ao trailer!