Crítica: Deadpool 2

A carreira de Ryan Reynolds foi tirada de um limbo de papeis ruins e projetos mornos com o irreverente Deadpool, título da Fox que adapta para as telonas o personagem homônimo da editora Marvel. Com participação ativa na concepção criativa do longa de 2016, Reynolds encabeçou um filme de super-herói marcado pelo humor sem filtros que tirava sarro das produções do gênero estreladas pelo ator, como os mal-sucedidos X-Men Origens: Wolverine Lanterna Verde, além de recursos narrativos padronizados nesse nicho cinematográfico. A continuação inevitável Deadpool 2 chega aos cinemas de todo o mundo com o objetivo de cumprir as mesmas promessas do filme de 2016.

No longa, Deadpool assume a missão de deter Cable (Josh Brolin, visto recentemente como Thanos em Vingadores: Guerra Infinita), um soldado viajante do tempo. Cable chega para conter aquilo que acredita ser uma ameaça ao futuro da humanidade e que lhe causou um trauma pessoal muito grande. Deadpool reúne um grupo de pessoas com super-poderes (bem, nem todas) para ajudá-lo na missão de paralisar as ações do viajante do tempo, batizando o esquadrão de X-Force.

Em Deadpool 2 o fã da franquia não terá muito do que se queixar. O grande mérito desta continuação é compreender que ela não precisa “anabolizar” característica do seu filme anterior para garantir que sua sequência mantenha as qualidades ou supere o antecessor. Deadpool 2 evita a gana desenfreada da indústria de “aloprar” na continuação, algo que, particularmente, fez mal a Marvel Studios em títulos como Guardiões da Galáxia Volume 2 Thor Ragnarok. Na Fox, Deadpool 2 se contenta com a fidelidade da proposta original no filme de 2016 e segue sem afetações ou exageros a cartilha daquilo que agradou o público no primeiro.

A sequência tem um roteiro mais polido que o anterior, oferecendo uma sequência de acontecimentos que justificam mais a presença e interferência dos seus protagonistas nos eventos, de Deadpool à excelente adesão de Cable, mais uma ótima presença de Brolin em filmes de super-herói no ano de 2018. No entanto, a anarquia adolescente e a autorreferência que marcaram o primeiro filme continuam ditando as regras e garantindo a simpatia e possível adesão do público aos apelos de Deadpool 2. É verdade que, assim como no primeiro longa, esses traços de Deadpool acabam requerendo do espectador uma adesão também pelo gosto. Particularmente, nem toda inserção cômica do filme me parece bem-vinda.

Ao tornar seu roteiro refém de uma cartela de referências da cultura pop, retornar às piadas envolvendo os filmes de super-heróis protagonizados por Reynolds que fracassaram e as gags relacionadas a sexo ou escatologia, Deadpool 2 acaba sendo um gosto adquirido. Principalmente porque tudo isso muitas vezes serve de pretexto para atenuar possíveis críticas a superficialidade da história e sobretudo de seus personagens. Preferências com o humor do filme à parte, a coerência do longa com o projeto cinematográfico pretendido pela franquia desde o início – com uma produção que, inclusive, não ostenta um orçamento mais robusto na sequência – é uma qualidade a ser reconhecida aqui, ainda que não seja motivo de riso frouxo para muitos espectadores como muito se anuncia desde o primeiro título.

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