Duna: Parte 2 (2024)
Timothée Chalamet em cena de 'Duna: Parte 2' (2024)

Crítica: Duna – Parte 2

Crítica: Duna – Parte 2
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Existe uma responsabilidade – ou ao menos deveria existir – quando o assunto é um trabalho de adaptação. Ao falar de obras literárias de ficção (fantástica ou científica), onde a construção de universo é uma árdua missão, a realização desse processo adaptativo se torna ainda mais difícil. Denis Villeneuve já havia provado em Blade Runner 2049 (2017) que ele sabia como dar continuidade num universo sci-fi. A renovação trazida por ele é repleta de qualidades e por isso seu trabalho em Duna (2021) foi admirável.

A ideia de continuar uma história do escopo da adaptação de Duna, ainda sobre o primeiro livro, impressionou o público, mas Villeneuve não decepciona. O trabalho do diretor e roteirista canadense em Duna: Parte 2 é ainda mais louvável. A sequência sci-fi chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (29) com a promessa de ser o primeiro blockbuster do ano. O novo longa-metragem consegue superar as expectativas (e seu antecessor) e leva o espectador numa odisseia espacial ainda mais estonteante.

Como já foi visto inúmeras vezes ao decorrer da história do cinema, alcançar expectativas de filmes que se tornam uma espécie de ‘clássico instantâneo’ para o seu respectivo gênero é um desafio gigante. Duna: Parte 2, contudo, vem na contramão disso. O segundo capítulo da saga sci-fi interestelar é maior em escopo, qualidade e sensações. Tanto no que Villeneuve e seu colega de roteiro, Jon Spaihts (Doutor Estranho e Passageiros, ambos de 2016), fazem ao criar saídas e novas rotas para a adaptação, como no empenho do diretor ao orquestrar essa odisseia espacial, existe uma condução de narrativa invejável no novo longa.

Talvez o maior mérito de Denis Villeneuve seja este. Construir imagética e esteticamente um universo diferente de tudo já visto – e o fazer com qualidade técnica e artística – ao mesmo tempo que ele entrega um produto acessível e possível de alcançar uma bilheteria astronômica. O cineasta canadense justamente é capaz de unir o que alguns chamam de ‘cinema de arte’ com o popular blockbuster. E isso é fascinante sobre Duna: Parte 2. O longa será capaz de abarcar um número imenso de espectadores com suas possibilidades narrativas, artísticas e técnicas.

Duna: Parte 2 (2024)
Timothée Chalamet e Austin Butler em cena de ‘Duna: Parte 2’ (2024)

Ainda sobre essa colisão de mundos gerada pela produção, Duna: Parte 2 também se torna um evento por envolver um tipo de projeto que há muito não se via – ao menos não com a dimensão da saga de Villeneuve. Talvez, na ficção, a última vez que o público vislumbrou algo dessa magnitude tenha sido com a saga Harry Potter (2001-2012) ou Star Wars (1977-2019). Em ambos os projetos, no entanto, nunca houve um processo autoral tão claro como em Duna.

Continuando o olhar sob os aspectos técnicos de Duna: Parte 2 que se destacam, é possível imaginar um futuro repleto de indicações em diversas categorias. O departamento de arte, fotografia, som e efeitos especiais são os principais motivadores desse resultado de tirar o fôlego. Hans Zimmer (007 – Sem Tempo para Morrer, de 2021) media o filme com sua trilha sonora epopeica. Para elevar o trabalho do compositor alemão, o restante do departamento de som constrói camadas sensoriais dessa jornada prometida de Paul Atreides. É inevitável não se arrepiar ao ver o personagem de Timothée Chalamet sendo aclamado pelos seus seguidores.

Da mesma forma que o som, a composição visual encabeçada pela tríade fotografia, efeitos visuais e arte cria imagens surpreendentes. Seja no quesito construção de universo ou no fator de vislumbre, as três equipes formam imagens inesquecíveis sobre esse universo espacial ficcional idealizado por Frank Herbert. Duna: Parte 2 é um presente aos olhos. Quanto maior a tela e melhor o som, a experiência se intensifica. Para a surpresa do público, a sequência sci-fi consegue entregar um trabalho técnico ainda mais impressionante.

Não menos importante do que o texto, a técnica ou a direção, o elenco que compõe Duna: Parte 2 completa essa ópera espacial perfeitamente conduzida. Os conhecidos nomes do primeiro filme, como Chalamet (Wonka, de 2023), Zendaya (Homem-Aranha: Sem Volta para Casa, de 2021), Rebecca Ferguson (Missão: Impossível – Acerto de Contas Parte 1, de 2023) e Javier Bardem (A Pequena Sereia, de 2023), e as novas adições, como Austin Butler (Elvis, de 2022), Florence Pugh (Não Se Preocupe, Querida, de 2022) e Christopher Walken, formam um elenco estelar. Essa reunião de talentos, assim como feita no longa anterior, eleva o projeto a um outro patamar com performances meticulosas e poderosas, como Butler interpretando Feyd-Rautha, o violento e cruel sobrinho do Barão.

Essa união de fatores faz de Duna: Parte 2 um filme fora da curva. Há muito que não se via uma construção de universo tão detalhada e rica como nesse projeto. Para além de conseguir transpor o mundo interestelar criado por Herbert, um dos maiores méritos de Duna é continuar se levando a sério e, por conta disso, manter a missão de sempre evoluir. A sequência é a prova desse compromisso orquestrado por Denis Villeneuve. O cineasta parece ter tido como meta criar uma odisseia espacial ainda maior, mais bela e impactante. E, com a Parte 2, ele foi capaz de realizar isso da forma mais impressionante possível.

Direção: Denis Villeneuve

Elenco: Timothée Chalamet, Zendaya, Rebecca Ferguson, Josh Brolin, Austin Butler, Florence Pugh, Dave Bautista, Christopher Walken, Léa Seydoux, Stellan Skarsgård, Charlotte Rampling e Javier Bardem

Assista ao trailer!