Cyrano

Crítica: Cyrano

3.5

Depois de passar pela péssima recepção de A Mulher na Janela em 2021 (justa, convenhamos), o diretor inglês Joe Wright definitivamente não merecia ver seu Cyrano ser praticamente esquecido naquele mesmo ano, sobretudo porque, ao contrário do primeiro, foi um longa bastante elogiado. Não merecia, pois esta adaptação de um clássico do teatro de Edmond Rostand a partir da biografia de um personagem que de fato existiu, o poeta e duelista Cyrano de Bergerac, é um filme que faz justiça à ótima filmografia do diretor.

Na história, Cyrano tem uma respeitada função no exército apesar de fora dele ser subestimado por sua aparência. Ele é apaixonado por Roxanne, jovem que conhece desde a juventude e por quem nutre esse sentimento sem nunca tê-lo revelado a ela. Suspeitando que Roxanne rejeitaria a ideia de ter uma relação romântica com ele, Cyrano decide ajudar um rapaz por quem ela tem uma paixão platônica. Cyrano passa então a escrever cartas para Roxanne se passando pelo jovem, ajudando os dois a estreitarem a relação. O que Cyrano acaba não percebendo por vergonha é que Roxanne se apaixona pelo autor das cartas e não pela aparência do pretendente que se apresenta a ela.

Assumindo o gênero musical, Joe Wright faz algumas mudanças na história de Cyrano que trazem ainda mais credibilidade aos dilemas do personagem principal. Se no original, o complexo de Cyrano vem do seu nariz avantajado, aqui o motivo da insegurança do protagonista com sua aparência é sua baixa estatura. Interpretado por Peter Dinklage, Cyrano parece lidar muito bem com seu tamanho quando duela com seus inimigos, mas na seara amorosa as questões do personagem com sua aparência impulsionam inseguranças que prejudicam o brilhantismo e a sensibilidade do protagonista com as palavras até o fim da sua narrativa.

Cyrano

Na condução do gênero, Joe Wright deixa sentimentos conflitantes no espectador quando o assunto é a sua direção para um filme do gênero. Em longas de época, Wright sempre apresentou uma encenação bastante inventiva, como acontece em Desejo e Reparação e Anna Karenina. Aqui, alguns números musicais até depõem contra o belíssimo trabalho dos seus atores quando o diretor insere balés que soam inorgânicos. Ainda assim, há momentos emocionantes em que a música trabalha a favor de Cyrano, como toda a cena em que o protagonista se declara para Roxanne atrás de um muro.

Peter Dinklage e Haley Bennett são os grandes destaques do longa – escolhas que deveriam ser certeiras, afinal estamos falando do casal principal do romance. Como Cyrano, Peter Dinklage imprime a nobreza característica do personagem e ainda trabalha muito bem a repercussão psicológica de toda a insegurança que o protagonista tem com sua aparência. Já Haley Bennett vive uma heroína cativante, com emoções à flor da pele, cheia de expectativas sobre o amor. A dupla constrói de maneira exemplar uma relação de amor entre personagens que não compartilham seus sentimentos face a face. Mesmo jamais se encontrando para falar diretamente sobre o assunto, é sensível para o espectador como o amor entre os personagens se desenvolve em uma escala ascendente.

É uma pena que Joe Wright não tenha conseguido sua redenção pública com Cyrano depois do fiasco de A Mulher na Janela. A adaptação musical do clássico é conduzida com uma emoção honesta pelo diretor, que extrai de Peter Dinklage e Haley Bennett desempenhos cativantes. Se não chega a ser comparável com os trabalhos mais visualmente ostensivos do diretor, ao menos comprova a vocação do realizador na condução de um clássico, com todas as suas emoções escancaradamente vibrantes.

Direção: Joe Wright

Elenco: Peter Dinklage, Haley Bennett, Kelvin Harrison Jr.

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