Rosaline

Crítica: Rosaline

3.5

Baseado no romance de Rebecca Serle, Rosaline adota um ponto de vista interessante para recontar um clássico, Romeu e Julieta de William Shakespeare, que tanto já foi encenado nas telas e das mais diferentes maneiras. O filme de Karen Maine (de Acampamento do Pecado) resolve deixar a história de amor do casal principal de lado para narrar os eventos que ocorreram com Rosaline, prima de Julieta e ex-namorada de Romeu.

Assumindo uma personagem “estranha” à história original, Rosaline revisa elementos dramáticos do clássico e oferece ao público uma nova história. Ao ser preterida por Romeu, Rosaline começa a criar uma série de planos para sabotar o romance do ex com a prima Julieta. No entanto, Rosaline não é uma vilã e o longa de Karen Maine, claramente direcionado para um público juvenil, ainda que não crie obstáculos para o entretenimento de adultos com sua história, não quer promover uma rivalidade feminina centrada na disputa pelo coração de um mesmo homem. Assim, quando começa a despertar para os sentimentos que passa a nutrir por um dos seus pretendentes escolhidos pelo pai, Rosaline intervém na história tradicional de Shakespeare a fim de evitar que o casal principal tenha o fim trágico demarcado pelo autor.

O longa acerta ao trazer uma contemporaneidade aos costumes e na maneira dos personagens se comportarem que contrasta com sua reconstituição de época, mas não cria uma ruptura tão drástica assim. Rosaline tem uma protagonista que soa à frente do seu tempo e que assume função semelhante às heroínas de comédias românticas colegiais como Cher (Alicia Silverstone) de As Patricinhas de Beverly Hills e Cady Heron (Lindsay Lohan) de Meninas Malvadas. Ela sucumbe a tomadas de posição nada altruístas, mas se redime e encontra outras perspectivas para a vida. O longa ainda traz canções como “It must be love” de Roxette, que toca em um baile a fantasia, e “All by myself” de Eric Carmen, usada para dimensionar a fossa da protagonista depois de ser abandonada por Romeu.

Rosaline

O choque de temporalidade provocado pelos elementos de encenação da história não chega a transformar Rosaline em uma sátira, ainda que o longa ironize os ideais românticos da sua obra base, Romeu e Julieta. Rosaline constrói uma nova história de amor para a protagonista com o jovem Dario (Sean Teale) sob bases muito sólidas, a ponto de nunca ficarmos divididos com um pretenso triângulo amoroso. Aliás, propositalmente, o filme empalidece a personalidade do casal protagonista de Shakespeare para fazer com que a experiência do espectador seja completamente aderente a sua nova protagonista e seu par romântico. Apesar desses novos horizontes, é interessante como o legado de Shakespeare não é descartado em Rosaline. Aspectos como a rivalidade entre Montecchios e Capuletos seguem no coração dos enlaces amorosos do longa, entre eles, o vivido por sua protagonista. A diretora Karen Maine também conta com a ótima escalação de Kaitlyn Dever (de Fora de Série) para interpretar Rosaline. A jovem atriz tem um timing para a comédia preciso que é fundamental para o filme.

Certeiro na comunicação que pretende estabelecer com o público-alvo, Rosaline é uma forma inventiva de revisar um clássico. O longa sabe equilibrar o arrojo e ironia de uma releitura cômica sobre os eventos de Romeu e Julieta com a costura de um outro romance igualmente cativante que tem como guia principal o talento da atriz Kaitlyn Dever.

Direção: Karen Maine

Elenco: Kaitlyn Dever, Isabela Merced, Sean Teale, Kyle Allen, Bradley Whitford, Minnie Driver, Nico Hiraga, Christopher McDonald

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