Angustura

XVII Festival Panorama Internacional Coisa de Cinema: Angustura

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Dez minutos. É tudo que Caio Sales (Os Filmes que Moram em Mim) precisa para fazer o seu manifesto em formato de audiovisual. A linguagem em si é simples. Entre imagens de arquivo, intercaladas com planos de tela branca e frases intensas – ou melhor, confissões –, uma forte conexão vai se estabelecendo com o público. Aqui, o som também dialoga com as sensações pungentes que se disparam a cada mudança convocada no ecrã.

Não existe texto verbal no curta-metragem. “É tudo angustura impossível de verbalizar”, explica Sales ao decorrer da projeção. Talvez, este seja o maior impacto da obra. Seja no golpe da presidenta eleita Dilma Rousseff, no resultado das eleições de 2018, no isolamento social de quase 2 anos, a aflição somente cresce. A angústia aumenta tanto que fica tudo entalado na garganta.

Por isso, só existe um momento no qual escutamos alguma voz e é quase no desfecho do curta, em um vídeo de Itamar Assunção cantando. Neste instante, o espectador consegue respirar e encontrar algum alívio diante de tantos pensamentos sufocantes passados na exibição. Contudo, apesar da intensidade de Angustura, há um conforto presente nele: a identificação.

É nisto que o filme ganha força e ultrapassa até a própria dimensão da “peste e da bomba”, como chama o Sales. É possível que alguém assista e vá além do contexto geral e consiga, ainda, sentir que está lendo na tela, em meio aquela luz forte e estourada, que não está sozinho em sua causa tão particular. Este é um material que cria diálogos, que conta um segredo para plateia como se fosse para uma pessoa apenas.

Neste horizonte tão plural de emoções, é um tanto mais complicado trazer um texto coeso, porque Angustura é uma explosão, que arrebata os olhos, a mente e o coração dos desavisados. Guiando a sua narrativa pelo o que chama de “saudade que não se mede no mapa”, Caio Sales se aproxima do público, seja pelo tom do texto, pelo desenho de som que fomenta ou torna mais complexo o que está sendo dito ou por traduzir sem pretensões o que habita o coração de tantos.

Direção: Caio Sales

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