O Amor Dentro da Câmera

Mostra de Cinema de Ouro Preto: O Amor Dentro da Câmera

3.5

“Tá chorando de alegria?”, pergunta Orlando Senna. “De amor”, responde Conceição Senna. Este momento da projeção resume um pouco do que é O Amor Dentro da Câmera, produção dirigida por Jamille Fortunato e Lara Beck Belov. Durante a sessão, o público se depara com toda afetividade presente no relacionamento de Orlando e Conceição, bem como o sentimento que possuem em relação ao cinema e a cultura. Em sua estética de documentário de ensaio, é curioso observar como as dinâmicas entre o cotidiano e o poético se encontram na tela.

Os dois artistas são filmados em momentos comuns, como seus cafés da manhã, nos quais dialogam sobre suas vidas, seus hábitos, sobre política e arte. A direção consegue captar a intimidade da dupla e aproximar o espectador destas figuras tão emblemáticas para o cinema nacional. O balanço entre a demonstração de fragilidades causadas pelo tempo, em seus corpos e mentes, juntamente com imagens de arquivo que contam a história e a relevância dos Senna para o audiovisual, é algo que equilibra a narrativa e tornam mais complexas as personagens deste enredo.

Conceição e Orlando também contribuem para esta construção de camadas. É bem verdade que este fator se dá pela própria personalidade deles, mas é um elemento importante a se apontar. Enquanto ela é mais explosiva e expõe abertamente suas emoções e conflitos mais profundos, ele traz uma serenidade e parece calcular o que vai ser dito. Além disso, a própria experiência dos dois com cinema parece transformar a obra enquanto ela é produzida. Entre um take e outro, o público se depara com as opiniões fortes e/ou incisivas do casal sobre alguma sequência e o acolhimento da equipe em relação a estes pensamento e reflexões trazidos por eles.

O Amor Dentro da Câmera

A escolha de deixar estes instantes no último corte me parece acertada. Toda a lógica construída ali serve, no final das contas, para fomentar esta multiplicidade de olhares para Conceição e Orlando, enriquecendo o enredo. A partir desta concepção, no entanto, o longa-metragem fica tão preso em sua própria estilística e linguagem, que não consegue avançar ou desenvolver as suas questões. As repetições de circunstâncias e falas chegam para edificar a criação da sua proposta, mas, a partir de sua metade, esta estratégia passa a ser cansativa, por sua obviedade e ausência de exploração do que está sendo dito.

Talvez, o fato de que a câmera, majoritariamente, está somente observando o par, durante as gravações, deixe a sensação de que direcionamentos e perguntas poderiam ampliar algumas discussões, como quando Conceição aborda o seu impasse sobre ser convidada apenas para papéis de puta e sertaneja ou quando o casal começa a se desentender. Estes são apenas alguns exemplos. O que vale ressaltar é que a retirada de algumas reiterações poderia abrir espaço para tensões, que soam como evitadas pelas diretoras.

O Amor Dentro da Câmera é um filme sobre amor e nem sempre ele é fácil ou de experiências corriqueiras. Por isso, além do tom repetitivo cansar o espectador, ele o leva sempre para inícios de histórias que acabam por ficar incompletas. Apesar deste fator, o resultado geral não fica comprometido, justamente pelo carisma e importância de Conceição e Orlando, fazendo com que a exibição seja agradável, em sua maior parte. A dupla instiga a curiosidade e há uma necessidade em pôr em destaque na cena pessoas mais velhas, lembrando para a sociedade que a paixão pode habitar os corações amadurecidos, seja de indivíduo para indivíduo ou deles paraseus labores tão queridos.

Direção: Jamille Fortunato e Lara Beck Belov

Elenco: Conceição Senna, Orlando Senna

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