Vitória

Festival de Brasília: Vitória

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Entre sons e imagens, o espectador se ambienta naquele universo que será mostrado nos próximos minutos. São vistas em cena muitas mulheres trabalhando e máquinas que fazem fortes ruídos. Majoritariamente, os planos aqui são gerais e revelam uma ou mais operária diante da imensidão dos equipamentos ou quadros mais fechados, nos quais as habilidades manuais e cuidado das funcionárias são mostrados.

Após esta construção de atmosfera é que se conhece a protagonista. Curiosamente, a câmera mostra as reações da personagem principal diante dos fatos. Um exemplo é a sequência em que Vitória (Rejane Faria) se consulta com o médico. Não é possível ver o rosto dele, apenas as movimentações e expressões dela. Esta escolha aproxima o espectador de Vitória e o torna uma espécie de cúmplice dela. Claro, para aqueles que embarcarem na aparente proposta do filme.

Os planos longos em seu rosto também fortalece a compreensão dos sentimentos de Vitória. Toda a sua estafa e indignação vão tomando a tela em um crescente. É importante destacar o cuidado do roteiro de Germano Melo (Russa) em ir do macro ao micro, do espaço onde as ações ocorrem cotidianamente, as reações que aquele ambiente podem causar ao corpo de uma trabalhadora, até ir diretamente para a preparação para a mudança da situação e quem será a responsável por mudar a realidade até então estabelecida.

Os argumentos do filme são claros, tem uma heroína e os seus sentimentos são explorados numa crescente. Para fortificar isto, a decupagem é consciente e vai trazendo enquadramentos mais fechados e indo de planos parados para as movimentações de câmera, . Este ponto é positivo porque localiza as emoções de Vitória e suas colegas de trabalho, bem como cria certa tensão, uma suspensão e uma dúvida sobre a eficácia da luta promovida por Vitória. Apesar destes elementos positivos, alguns algo poderia ser executado de uma maneira melhor.

O desfecho da produção carece em encerrar o ciclo proposto pela narrativa: há um local onde as condições empregatícias são ruins. Afetada por esta situação, Vitória reúne suas colegas e combina uma greve. Não existe uma conclusão deste arco. Caso a decisão de manter a história em aberto seja consciente, talvez, a solução mais adequada fosse convocar um debate direto, com as negligências da fábrica sendo postas nitidamente. Desta maneira, como a obra acontece, acaba-se afrouxando o que parece ser o ponto principal aqui: cada pessoa que faz parte de um coletivo tem a força para mobilizar o seu grupo e quebrar com os sistemas opressores.

Direção: Ricardo Alves Jr

Elenco: Rejane Faria