Tenet

Crítica: Tenet

3.8

É estranho voltar ao cinema depois de tanto tempo. Especialmente para nós que estávamos habituados a frequentar as salas umas três vezes por semana. A expectativa sobe ainda mais quando falamos de um aguardado filme do diretor Christopher Nolan (Dunkirk), que foi seriamente impactado pela pandemia que ainda vivemos. Tenet já foi lançado lá fora há algumas semanas e só conseguiu chegar agora no Brasil. Sendo assim, fui à cabine de imprensa com mais informação do que gostaria.

Tenet nos introduz ao personagem O Protagonista, que era agente da CIA e acaba recrutado pela organização misteriosa para uma missão confidencial e de extrema importância. É preciso se evitar a Terceira Guerra Mundial, que pode ter seu estopim com uma nova tecnologia de revés que tem o poder de afetar os objetivos e a escala temporal.

Nolan já é um diretor um pouco confuso na construção de narrativas e isso se torna muito mais sério neste longa, já que a história em si não facilita. O vai e vem do enredo, a inserção dos personagens e das justificativas que os levam a tomar certas decisões deixam o espectador completamente perdido em alguns momentos, sem entender exatamente qual é a ameaça ou o objetivo daquela missão. Até que isso se firme, o roteiro se sustenta muito mais do que deveria numa história secundária que envolve uma mãe batalhando pela guarda de seu filho e que acrescenta pouco ao resto.

E reforço aqui que a confusão não é com relação ao espaço e tempo que são alterados cada vez mais. É sobre diálogos detalhados demais de informações que ainda não foram apresentadas ao espectador, que acaba tendo dificuldade em identificar qual material é relevante.

Tenet

O filme vai construindo a relação com o protagonista, que continua sendo impessoal, como a maioria dos agentes especiais costumam ser. Sabemos pouco sobre ele, nada sobre seu passado a não ser o fato de que ele tem fome de vingança e treinamento surreal. Enquanto isso, a trama se tece num paradoxo de prioridades e novos personagens que vão surgindo. Temos um grande mérito de que os fios não ficam soltos e vão se encaixando à medida que a trama avança.

Um ponto alto da trama é a atuação dos principais personagens. John David Washington (Infiltrado na Klan) consegue conferir o peso que seu personagem exige, embora não coloque tantas facetas. Kenneth Branagh (Assassinato no Expresso Oriente) incorpora o clássico vilão opressivo e manipulador, que tem todas as pessoas sob seu poder, sem grandes dificuldades para isso. Ele consegue se equilibrar na linha do excesso e não cai no erro de ser canastrão. Mas o destaque fica mesmo é com Robert Pattinson (O Diabo de Cada Dia), que mostra muita afinidade com o gênero do filme e cria um personagem muito natural e despretensioso. Sentimos até que ele poderia ter mais tempo de tela.

Tenet é um ótimo filme, mas que perde a chance de ser excelente. Enquanto passa muito tempo perdido em explicações sobre aquela missão, o espectador anseia para saber mais sobre os objetos reversos, como eles funcionam e como seria o mundo visto desta forma. Só muito no final é que temos acesso a mais informações sobre isso, como a possibilidade de duplicidade no tempo e o risco que isso confere. É definitivamente algo que o roteiro poderia explorar melhor no início. Ainda assim, existe muita lógica dentro do caos e é isso que engrandece o longa como um todo.

Direção: Christopher Nolan
Elenco: John David Washington, Kenneth Branagh, Robert Pattinson, Elizabeth Debicki, Michael Caine, Himesh Patel, Aaron Taylor-Johnson, Clémence Poésy

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