Pedro e Inês

Crítica: Pedro e Inês

2.5

Adaptação da obra A Trança de Inês, de Rosa Lobato de Faria, Pedro e Inês traz uma história de amor trágica, inspirando-se na lenda do rei Pedro I e de Inês de Castro. Para realizar tal intento, a estratégia utilizada aqui é a mesma do livro: em três épocas distintas – passado, presente e futuro –, o público acompanha o casal principal se apaixonando e sofrendo pelos impedimentos existentes em cada período em que eles vivenciam o amor deles, sempre com esta conotação de proibido e impossível.

Há algo na premissa que pode prender o espectador. A força dos sentimentos dos dois é transmitida desde os primeiros minutos de projeção. A narração de Pedro (Diogo Amaral) convida quem assiste a mergulhar em suas emoções, que soam complexas e sofridas, ainda que ditas em tons um tanto poéticos. A intensidade de Pedro é bem construída pelo intérprete que lhe dá vida. Há no ator um trabalho físico, tanto de construção corporal, quanto de texto, que transmitem com organicidade a visceralidade da personagem.

Amaral também busca diferenciar a postura e a maneira de se comunicar de Pedro, durante as passagens distintas de tempo, porém mantendo os olhares e gestos de um homem obcecado. Mas, a qualidade do filme para por aí, neste encanto pelo enredo do par romântico e na qualidade da atuação de Diogo Amaral. Em outros quesitos, o longa se torna difícil de acompanhar até o seu desfecho. A começar pela passividade de Inês (Joana de Verona) e ausência dela na movimentação das ações dramatúrgicas.

Pedro e Inês

Ela é colocada, independentemente do período mostrado na tela, com uma fragilidade e inércia, que faz com que seu destino seja sempre decidido por outros. Seus olhares estão sempre perdidos e a criação de Verona reforça essa imagem de Inês. Existem poucas camadas em sua personalidade e ela é quase empurrada dentro da trama, de acontecimento em acontecimento, tornando-a rasa. Além de Inês, todas as figuras femininas são dotadas de clichês machistas, de visões estereotipadas da mulher dentro da sociedade.

Seja na ex-esposa que surta de ciúme, na mãe possessiva ou nos momentos nos quais a rivalidade entre mulheres é recorrente, é possível notar qual é a visão do roteirista e diretor António Ferreira. O espaço que ele deseja dar para o gênero é nítida e marcada de preconceito. Se ao menos houvesse uma perspectiva crítica neste contexto, haveria o ganho de ser proposto um debate acerca do tema, mas não é o que acontece durante a projeção. Para completar, o próprio rumo da narrativa vai se perdendo.

Entre as idas e vindas temporais, a produção se desgasta. Inclusive, resta uma sensação de repetição. Os três plots falam sobre a mesma coisa, o que faz com que a obra fique previsível e cansativa. Os elementos visuais bem trabalhados, como a direção e a fotografia, não sustentam um roteiro mal costurado e que poderia ser mais enxuto. A adaptação talvez ganhasse mais se possuísse um acréscimo de deduções, aumentando a duração do desenvolvimento dos conflitos das coadjuvantes, fomentando e justificando com maior cuidado os seus comportamentos e seus sentimentos.

A amargura de Pedro é captada rapidamente, assim como a sua incapacidade de transformar o destino infeliz de Inês. Se estas informações são compreensíveis desde o início da sessão, caberia explorar outras tonalidades dramáticas também. No final das contas, o resultado de Pedro e Inês é um exagero de sequências semelhantes, apenas com cenários e figurinos modificados.

Direção: António Ferreira

Elenco: Diogo Amaral, Joana de Verona, Vera Kolodzig

Assista ao trailer!

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