O Rei

Crítica: O Rei

Assumir um posto que tradicionalmente já tem um modus operandi significa que precisamos assumir todas as consequências dele? O longa O Rei, uma produção da Netflix, coloca esse tema em pauta ao tratar da linha de sucessão. Henry (Timothée Chalamet, Me Chame Pelo Seu Nome) é um jovem príncipe que precisa assumir o reinado depois da morte do pai. Mulherengo, afastado da política e pacifista, ele vai precisar mudar seu estilo de vida para conseguir governar a Inglaterra. Em meio a isso, a França declara estado de guerra, convocando a refletir sobre seu posicionamento.

A trama evolui como uma articulação política de poder e estratégia. Embora seja um filme que fale muito sobre guerra, O Rei é muito mais sobre as discussões por trás do embate físico. Mesmo antes da morte do rei, os conselheiros já começam a se articular para conseguir “mandar” no seu sucessor. Paralelo a isso, Henry está muito mais preocupado em levar a vida com tranquilidade do que assumir um grande posto.

O diretor David Michôd (The Rover – A Caçada) coloca sua marca no roteiro, ao equilibrar cenas de negociação com a contemplação e negação do protagonista. Além disso, temos um belíssimo trabalho de trilha sonora e fotografia, que acabam funcionando como elemento-chave na construção da atmosfera de tensão e drama da história. Sim, esse é um filme de drama com alguma ação, e não o contrário.

Talvez por isso, inclusive, possa ter algum sentimento de frustração por parte do espectador desavisado. Especialmente quando o trailer “vendeu” a ideia de um filme de batalhas épicas. A construção da guerra, mesmo no quesito físico, é muito mais estética do que visceral. Planos abertos que valorizam a multidão e destacam determinado personagem, como se ele estivesse sendo afogado pelo regimento da época.

O Rei

A escolha do elenco é um ponto alto e acertado do filme. Chalamet demonstra toda a insatisfação, revolta e aceitação que o príncipe Henry traduz. Ele é de poucas palavras, mas muitos emoções. O que se torna claro através de seu olhar e comportamento retido. Para além dele, Robert Pattinson (Bom Comportamento) está excelente no papel do soberano francês. Ele mistura um pouco de loucura psicótica com a inexperiência, levando para a sua curta participação um destaque considerável.

Por fim, O Rei tem um leve problema de ritmo, especialmente na primeira parte. Mesmo que a proposta seja de um drama, ele acaba caminhando muito sem propósito por algum tempo, deixando o espectador num misto de confusão com o objetivo da trama e tédio. Isso acaba se revertendo a medida de Henry assume o trono e a ameaça da França se torna mais real.

Nada disso impede que o filme seja bem sucedido no seu propósito e nos ofereça uma obra de muita qualidade. O que é uma grata surpresa quando falamos de Netflix, já que o streaming tem um problema de bons roteiros na categoria filmes. O Rei é uma produção contundente, um drama histórico que fala não apenas das articulações políticas, como das transformações pessoais que, por vezes, precisam ser realizadas para um propósito maior. Vale a pena conferir!

Direção: David Michôd
Elenco: Timothée Chalamet, Robert Pattinson, Ben Mendelsohn, Joel Edgerton, Lily-Rose Depp, Dean-Charles Chapman, Sean Harris, Thomasin McKenzie

Assista ao trailer!

Você pode conferir esse filme diretamente na Netflix!