O Homem sem Gravidade

Crítica: O Homem sem Gravidade

O gênero de filmes de super-heróis chegou a um ponto de saturação. Por isso, os novos cineastas que decidirem se aventurar nessas águas precisam achar uma nova fórmula para fugir do comum. Como apontado por Ana Maria Bahiana em seu livro “Como ver um Filme“, a sátira é um dos caminhos mais naturais após o esgotamento de um tema. Isso funcionou muito bem com a série The Boys, que se baseou em universo infestado heróis cheio de falhas para fazer críticas à sociedade consumista e capitalista. De certa maneira, O Homem sem Gravidade ruma para o mesmo caminho.

Tudo começa dentro de um hospital, em uma noite chuvosa, no meio do nada e que aparentemente só possui uma enfermeira. Neste cenário propício para um acontecimento fabuloso, chega Natalia (Michela Cescon, Vincere), em trabalho de parto, e sua mãe Alina (Elena Cotta, Looking for Alibrandi). Assim que sai do útero, Oscar começa a flutuar, sendo preso apenas pelo cordão umbilical. Com a habilidade (ou maldição) de não ter gravidade, o menino será escondido pela mãe e avó, passando toda a infância preso dentro de casa em uma pequena província da Itália e assistindo desenhos do Batman, seu ídolo. Posteriormente, a trama avança no tempo para mostrar sua vida adulta.

Talvez, o maior problema de O Homem sem Gravidade é que ele tenta ser dois filmes em um só. Primeiramente, há todo um tom mais surrealista. Ele vai desde os cenários da vila marcados pela fumaça, até a transformação de Oscar em um produto de marketing. Por outro lado, há um realista drama familiar envolvendo abuso psicológico e controle, além da relação entre Oscar e Agata (interpretada na infância pela maravilhosa Jennifer Brokshi).

O Homem sem Gravidade

Não só isso, como as elipses temporais interrompem a narrativa de maneira prejudicial. Afinal, no momento em que começamos a nos acostumar e afeiçoar pelos personagens, seus atores mudam e vamos para uma fase completamente diferente de suas vidas. De todas, a que mais chama a atenção é a da infância. É aqui que o diretor Marco Bonfati (Bozzetto non troppo) mostra uma maior sensibilidade na maneira como captura o mundo através da inocência de uma criança e captura Oscar e sua habilidade com uma genuína fascinação.

É interessante como os super-poderes do protagonista refletem todos os seus problemas pessoais, mostrando que O Homem sem Gravidade funciona em uma segunda camada. Fica um simbolismo muito claro de um jovem que quer voar, sair para o mundo, mas constantemente tem sua liberdade podada. De mesmo modo, a mochila que ele carrega consigo até na fase adulta, seria essa representação da ingenuidade infantil que nunca saiu dele.

Entretanto, a história perde sua originalidade e vai para o campo do genérico quando tenta ser uma sátira de super-heróis, mostrando toda a exploração da mídia. Pelo contrário, o sucesso de Bonfati está quando ele, mesmo com a presença sobrenatural, traz uma narrativa bem sóbria. Ou seja, sua falta de gravidade é apenas mais um elemento de quem ele é, e não o centro da trama. No fim, O Homem sem Gravidade é como um conto de fadas moderno, que poderia ser melhor chamado de “O Homem sem Maldade”. É o clássico dilema do inocente campo conhecendo a malícia da sociedade.

Diretor: Marco Bonfanti

Elenco: Michela Cescon, Elena Cotta, Jennifer Brokshi, Elio Germano, Silvia D’Amico Bendico, Pietro Pescara

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