O Dublê (2024)
Ryan Gosling em cena de 'O Dublê' (2024)

Crítica: O Dublê

Crítica: O Dublê
4.4

Depois do fenômeno do Barbenheimer, Ryan Gosling (O Primeiro Homem, de 2018, e Barbie, de 2023) e Emily Blunt (O Retorno de Mary Poppins, de 2018, e Oppenheimer, de 2023) passaram a pleitear espaço nas mídias para o seu próximo trabalho, dessa vez juntos. Com seus nomes mais em alta do que nunca, a dupla de intérpretes estrela O Dublê, o novo longa-metragem do diretor David Leitch (Velozes e Furiosos: Hobbs & Shaw, de 2019, e Trem-Bala, de 2022), levemente inspirada na série de TV de mesmo nome dos anos 1980. O filme chega aos cinemas nesta quinta-feira (2) como uma promessa de ser um dos maiores sucessos de ação do ano.

Para além do burburinho do projeto que surge por conta de suas estrelas, ainda há algo de muito pessoal sobre o longa para o diretor. Além de cineasta e ator, David também é coordenador de dublê e performer nesse setor. Ou seja, O Dublê tem uma força pessoal sobre enaltecer um dos departamentos negligenciados quando se pensa na indústria de Hollywood. Com isso, o filme é uma viagem intensa e cômica tanto no universo do trabalho dos dublês, como na própria arte de se fazer cinema.

Em O Dublê, Colt Seavers (Gosling) é um dublê de ação que se vê metido numa confusão gigantesca. Enquanto ele tenta reatar sua paixão com a diretora estreante Jody Moreno (Blunt), Colt  investiga o desaparecimento da estrela do filme de sua amada, o famoso ator Tom Ryder (Aaron Taylor-Johnson). O problema é que ele precisa fazer tudo isso em segredo, na esperança de salvar o primeiro filme de Jody antes que descubram que o ator sumiu.

Os trailers, as entrevistas e tudo mais que se sabe da produção antes de assistí-la, indica que o público está indo para uma sessão de algo que se assemelha a uma versão mais família de Trem-Bala (2022), Dois Caras Legais (2016) ou uma mistura dos dois. O resultado de O Dublê é, no entanto, algo ainda mais satisfatório. Mesmo que fosse um mix entre os dois longas – um deles estrelados também pelo Gosling -, o novo filme de David Leitch já seria interessante e engraçado o suficiente para fazer uma arrecadação interessante.

O que o roteiro de Drew Pearce (Hotel Artemis, de 2018) entrega ao espectador, contudo, é algo infinitamente melhor do que se poderia imaginar. O Dublê tem uma energia similar a de As Panteras dos anos 2000. Abraçando o exagero, o humor sem amarras e ainda adicionando o mundo do cinema em sua estrutura, a produção é um mergulho no que há de melhor na filmografia do diretor e do roteirista, além de ter a dupla de protagonistas fazendo algo que ambos brilham, que é comédia.

O Dublê (2024)
Ryan Gosling e Emily Blunt em cena de ‘O Dublê’ (2024)

O Dublê é simplesmente um caldeirão de referências, piadas e cenas de ação monumentais que resultam num filme surpreendentemente divertido. É um encontro entre Missão: Impossível (1996-) e Chumbo Grosso (2007). É um roteiro que não tem medo de ser exagerado quando precisa. Além disso, o texto é recheado de autorreferências e brincadeiras sobre o fazer cinema e alguns filmes bem conhecidos do público – incluindo uma constante e hilária sátira a odisseia espacial de Dennis Villeneuve (Duna, de 2021, e Duna: Parte 2, de 2023).

O elenco é outro ponto alto de O Dublê. Parece que ele foi escolhido a dedo. Ryan Gosling está no tipo de papel que nasceu pra fazer. Ele brilha como ninguém em comédias, especialmente quando essas têm camadas que permitem que o ator possa brincar com o roteiro. Emily Blunt completa a realeza desse relacionamento em tela que, ainda que não soubéssemos, era o que o público mais precisava. Também é preciso parabenizar os trabalhos de Hannah Waddingham (Abracadabra 2, de 2022) e Winston Duke (Pantera Negra 1 e 2, de 2018 e 2022) que também brilham no filme e arrematam o público com momentos divertidíssimos.

Essa explosão de sentimentos e diversidade de gêneros é a força de O Dublê. Ele é um filme de ação ao mesmo tempo que é de comédia e de suspense. O roteiro consegue misturar os três bem e é coeso o suficiente para não perder o público, mesmo que às vezes brinque com os limites do crível ou exagerado. Mas isso faz parte do show. Essa é a essência do projeto e, provavelmente, vai ser isso e seus nomes estelares que farão deste um projeto extremamente lucrativo.

E assim a narrativa de O Dublê entrega tudo o que o espectador quer: romance, drama, ação, aventura e mistério. Tudo isso com direito a um vislumbre do que é a arte de fazer cinema – sem falar nas constantes referências visuais, sonoras e de discurso a outros sucessos da telona. É um filme para família que diverte até a barriga doer, mas não perde a qualidade e nem se coloca menor do que nenhum outro filme. E, quem sabe, o longa pode até chegar a temporada de premiação com direito a algumas nomeações.

Direção: David Leitch

Elenco: Ryan Gosling, Emily Blunt, Aaron Taylor-Johnson, Hannah Waddingham, Teresa Palmer, Stephanie Hsu e Winston Duke

Assista ao trailer!