Matilda

Crítica: Matilda – O Musical

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Adaptado da obra homônima de Roald Dahl, a história da garota prodígio Matilda já ganhou versões em vários formatos, como em audiobooks ou na Broadway. Há uma popularidade na menina que sofre com os pais alienados e uma diretora de escola assustadora e grande parte disto se deve a versão dirigida por Danny DeVito, nos anos 1990. (E aqui, é preciso abrir um parênteses para revelar o quão árdua é a missão de escrever sobre este novo olhar cinematográfico para Matilda, visto que esta que vos escreve cresceu assistindo Mara Wilson e Embeth Davidtz contracenando, com carisma e um bom jogo de cena).

Mas, o que importa agora é pensar no musical de 2022, que estreia dentro da Netflix, como um musical que procura uma fidelidade maior ao livro e que toma seu tempo para criar espaço para cada acontecimento. Matilda é filha única e seus poderes não chegam de repente ou facilmente. Há uma luta interna da personagem e o seu amadurecimento é o que refina a sua magia. A força da menina vem muito mais do discurso e da sua coragem do que com seus poderes.

Esta característica condiz com a construção da sua personalidade dentro do enredo, complexificando e aprofundando mais quem é ela e as suas motivações. O talento de Alisha Weir potencializa esta energia que circunda o seu papel. Apesar de toda a sua atuação ser bastante intuitiva, Alisha domina as suas sequências por apresentar consciência do uso dos seus olhos e do seu tônus corporal para imprimir as emoções de Matilda. Ao lado de Miss Honey (Lashana Lynch ,Mulher Rei), as sensações dos sentimentos de Matilda se intensificam.

Matilda

A relação de Matilda e Miss Honey é uma espécie de chave da história, pois é a única validação adulta que a protagonista possui. Desta forma, o trabalho de Lynch e de Weir é satisfatório, pois elas conseguem mostrar essa cumplicidade única que existe entre a dupla. Dentro desta lógica, o contraponto principal a esta parceria entre Matilda e Miss Honey é a figura da Miss Trunchbull (Emma Thompson), que precisa ter imponência e criar uma atmosfera de medo. No entanto, apesar da atuação de Thompson não ser exatamente ruim, falta algo na criação deste imaginário que está conectado diretamente com a personagem.

O fato desta Trunchbull não funcionar vem da atuação, mas também do roteiro e da própria direção. Há uma lacuna nesta ambientação ao redor de Trunchbull, que deveria, na verdade, gerar tensão e um perigo iminente para Matilda e Honey. Ainda assim, Matthew Warchus (Orgulho e Esperança) entrega elementos positivos em sua composição. Talvez, seu maior tenha sido em criar uma decupagem que não só engrandecessem os números musicais, mas também deixasse as fruições mais prazerosas para o público.

Através de seus planos e movimentações de câmera, as coreografias crescem e podem ser acompanhadas em sua totalidade, além de ficarem mais empolgantes. Um exemplo é um dos momentos finais, na execução da música Revolting Children. A revolta das crianças no colégio é apoteótica e o foco de Warchus parece justamente esse, de conduzir mais sobriamente as sequências sem música.  Desta maneira, no geral, Matilda – O Musical tem seus altos e baixos. Por ganhar uma dinâmica mais intensa durante as canções e possuir algumas quedas em momentos que poderiam ser de suspensão ou de criação de uma progressão, o longa peca. Mas, através das suas músicas, de uma protagonista carismática e da relação de Miss Honey com Matilda, a projeção acaba valendo a pena.

Direção: Matthew Warchus

Elenco: Alisha Weir, Lashana Lynch, Emma Thompson, Stephen Graham

Assista ao trailer!