Crítica: Manchester à Beira-Mar

Correndo na roda de diversas premiações hollywoodianas, Manchester à Beira-Mar estreia nesta quinta-feira (19), e promete arrancar lágrimas e intensa angústia de seus espectadores. Dirigido e escrito por Kenneth Lonergan (Margaret), o longa narra a triste trajetória de Lee Chandler (Casey Affleck) e sua família. De forma cuidadosa e arrebatadora, o filme vai revelando, aos poucos, a complexidade de suas personagens e de seu enredo.

Lee é um zelador em Boston e precisa voltar para sua cidade natal, após uma ligação de emergência avisando sobre o estado grave de seu irmão mais velho, Joe Chandler (Kyle Chandler), que se encontra no hospital. Ao chegar em Manchester, o rapaz precisa cuidar de seu sobrinho e lidar com lembranças e traumas do passado que ainda despertam sentimentos ruins no protagonista.

Sem dúvidas, apesar das terríveis polêmicas envolvendo o Affleck, a sua interpretação está excelente na película. Isto porque o ator consegue dosar bem a carga dramática durante a projeção, revelando lentamente as camadas do sofrimento de Lee Chandler, que no início parece ser apenas um cara comum, beirando ao perdedor, mas que vai se mostrando um homem cheio de dores profundas e emoções fortes. Diferentemente de outros longas do artista, aqui ele consegue trazer expressividade para o olhar e gestos, deixando um nó na garganta do espectador e uma constante dúvida de empatia ou rancor em relação à persona fictícia.

O restante do elenco também está afiado, principalmente Michelle Williams (Suíte Francesa) e o jovem Lucas Hedge (O Grande Hotel Budapeste). A atriz compôs uma personagem aparentemente simples, mas quem conhece seus trabalhos anteriores percebe uma voz e uma dinâmica corporal diferente da sua chave e as cenas do longa crescem bastante quando a artista está em cena. Já Hedge, tem uma leveza e suavidade na interpretação, deixando que os acontecimentos se tornem ainda mais fortes. O rapaz é quem dá um pouco de alento, ainda que não quebre a atmosfera de sofreguidão do filme.

Ainda que os atores estejam muito bem em Manchester à Beira-Mar, o ponto de maior qualidade da película é seu roteiro. Além de apresentar os acontecimentos de forma gradual, que vão golpeando o público lentamente e o fazendo entender a dimensão dos acontecimentos sem pressa e cuidadosamente, ele consegue criar uma conexão do espectador com a realidade da trama e comover sem se tornar apelativo ou exagerado. O tom do longa é na medida, tem tensão, emoção, bom desenvolvimento das ações e das personagens.

A fotografia, realizada por Jody Lee Lipes (Descompensada), adiciona mais uma camada de melancolia para Manchester. Com imagens bucólicas, que mesclam tristeza com cores frias e acolhimento com cores amadeiradas, o filme consegue ambientar bem o espectador neste universo interiorano que, teoricamente, dá a ideia de sossego e tranquilidade, mas, ao mesmo tempo, pode ser tão coberto de passado devastador ao se olhar mais de perto.

A única questão que incomoda no discurso do filme, que pode ser visto como algo neutro para o que o público decida ou não, é a “bondade” para com o protagonista. É como se, ainda depois de tudo que fez, ele já tivesse sofrido o bastante e está na hora de uma suposta redenção. O que não ocorre com as personagens femininas que, em alguns momentos, parecem chatas, irresponsáveis ou injustas.

Manchester à Beira-Mar é um filme cuidadoso, muito bem executado e que toca profundamente o espectador por trazer uma narrativa que demonstra um cotidiano familiar tão cheio de mazelas e carga trágica, mas sutilmente revelada. Por essas razões, o longa se torna forte candidato no Oscar deste ano e será mais que merecido!

Assista ao trailer!