Kate

Crítica: Kate (Netflix)

2.5

Uma assassina impiedosa precisa eliminar todos os seus alvos, durante a sua missão no Japão, porém ela acaba encontrando uma grande dificuldade para finalizar este intento. Esta é a premissa de Kate, uma das estreias deste mês da Netflix. O filme tem todo seu primeiro ato em uma atmosfera genérica, na qual é difícil seguir assistindo. Sem uma construção narrativa, na qual o espectador se ambiente naquele cenário, os conflitos são postos repentinamente e soam como uma desculpa para sequências frenéticas de perseguição.

Esta junção de ausência de elaboração de universo ficcional e de exploração das personagens, que acontece na parte inicial da projeção, deixa que a obra perca o seu ritmo. Da mesma maneira que sequências arrastadas são enfadonhas, cenas que imprimem gratuitamente uma velocidade intensa obtêm o mesmo resultado. Desta maneira, enquanto Kate (Mary Elizabeth Winstead), que dá nome ao título do longa-metragem, corre desesperadamente para solucionar seu problema – um envenenamento por uma substância mortal –, pouco se sabe sobre ela, sobre seu mentor, Varrick (Woody Harrelson) ou da família de mafiosos que ela deseja matar.

Para tentar alcançar o mínimo de proximidade com a vida pregressa de Kate e Varrick, a escolha aqui é inserir flashbacks que revelam parte dos treinos de Kate, desde a sua infância. No entanto, esta estratégia acaba comprometendo a fluidez do desenvolvimento do enredo, retirando o público da imersão com o presente de Kate, que está sendo mostrado. Além disso, não há uma mudança de tom nesta apresentação do passado, o que acaba convocando a sensação de cansaço novamente.

A virada da história,  porém, acaba por trazer um ganho significativo para o longa. A entrada de Ani (Miku Patricia Martineau) transforma a dinâmica anterior. Adolescente falastrona, a menina consegue equilibrar as tonalidades e a lógica tonal do filme. A partir da chegada de Ani, parece que as pancadarias ganham uma nova roupagem, pois Kate vai ampliando suas motivações. A relação quase maternal entre a dupla faz com que quem assiste conheça mais sobre ambas e as suas ações recebam alguma justificativa mais palpável. A complexidade da protagonista, finalmente, passa a aparecer.

A partir do momento que a conexão de Kate com Ani cresce, as brigas ficam mais emocionantes e a torcida por um desfecho positivo também. A camada cômica impressa por Ani também alivia os momentos de tensão das lutas, o que, novamente, aumenta a potencialidade da exibição. São novos contornos e dimensões dadas para Kate. Ao mesmo tempo, as outras personagens também vão demonstrando outras facetas e sendo colocadas de uma forma menos maniqueísta. Sem impor a questão do bem e do mal, a previsibilidade que surgia antes na tela vai se desfazendo.

Por esta razão, o desfecho do enredo acaba por ser a sua parte mais satisfatória. Sem medo de arriscar, pondo todas as personagens em seu limite, as suas trajetórias acabam por fazer sentido e seu encerramento também. Sem revelar spoilers, é possível dizer que a finalização deixa o conteúdo de Kate amarrado e conclui a jornada da protagonista. Assim, a sessão pode ser árdua no princípio, mas vai se tornando divertida.

Direção: Cedric Nicolas-Troyan

Elenco: Mary Elizabeth Winstead, Woody Harrelson, Miku Patricia Martineau

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