Crítica: Guardiões da Galáxia Vol. 2

Quando lançado em 2014, Guardiões da Galáxia estabeleceu um novo padrão de realização de filmes para a própria Marvel Studios, que até então operava com sua cartela de personagens já conhecidos na chave de ignição de Jon Favreau em Homem de Ferro. Diferente de outros diretores que trabalharam na Marvel, James Gunn pôde transformar esse produto em um parque de diversões só seu, com direito a uma assinatura que todos imediatamente passaram a reconhecer como sua. E ele pôde fazer isso por não haver por parte da Marvel uma preocupação com os cânones desses personagens como há com Homem de Ferro, Thor ou Capitão América. Star Lord, Gamora e cia. fazem parte de um grupo de personagens que não tinham até então uma leva de fãs fieis que já seguiam suas histórias nas HQs. O filme de James Gunn apesentava ação e comédia “fora da casinha” com uma embalagem ainda mais pop com sua trilha sonora nostálgica, piadas de duplo sentido e referências pop.

O resultado foi um sucesso incalculável que influenciou até mesmo as produções da Marvel que o sucederam em diferentes níveis de êxito, como o divertido Homem-Formiga e o desarranjado Doutor Estranho, e a sua rival Warner/DC no problemático Esquadrão Suicida. Mas ainda que as marcas de Gunn tenham sido cooptadas pela própria Marvel, somente Gunn consegue fazer um filme a la Guardiões porque tal fórmula só funciona de fato com esse grupo de personagens e com a liberdade que somente ele parece gozar no estúdio. Natural que o filme tivesse uma continuação pois faz parte desse mega universo Marvel, e natural também que seguindo os mesmos passos do longa anterior, Guardiões da Galáxia Volume 2 fosse mais um êxito. Ele basicamente pega tudo que deu muito certo no filme que o antecedeu e amplifica (mais awesome mix, mais Groot fazendo fofuras e mais momentos sem noção do Drax).

Em Guardiões da Galáxia Volume 2, o grupo liderado por Star Lord/ Peter Quill (Chris Pratt) está há um tempo em missões universo afora e são surpreendidos por revelações em torno da paternidade de Peter. Inicialmente, a quantidade de personagens e conflitos em Guardiões da Galáxia Volume 2  preocupa: Será que Gunn conseguirá dar conta de tanta história assim? No cerne de toda a trama, a relação de Peter Quill/Star Lord com seu pai, mas também o retorno de Yondu, a conflituosa rixa entre Gamora e Nebulosa, conhecemos Mantis, dois vilões perseguem o grupo de personagens, os Guardiões se dividem em dois grupos durante parte do filme… Enfim, muita coisa acontece. Até certo ponto, a impressão que o longa dá é que a qualquer momento James Gunn perderá o fio da meada, mas na metade da história ele oferece a conexão entre todas essas peças, sublinhando o conceito dos Guardiões como uma família, e surge uma outra faceta de Guardiões da Galáxia. O grupo de heróis involuntários não abandona a anarquia, mas assume uma faceta mais emotiva, capaz de amarrar de maneira ainda mais forte os laços afetivos entre seus personagens e entre os mesmos e o público.

Mantis, uma nova personagem, é adicionada à história e têm muito a oferecer não apenas à trama do segundo filme mas ao próprio grupo. As figuras que já existiam têm sua personalidade expandida, como Yondu, Nebulosa e Gamora, ainda que está última tenha que se envolver em uma trama amorosa ainda pouco elaborada com Peter Quill. Por sua vez, os personagens que já eram carismáticos no primeiro filme, seguem produzindo o mesmo efeito aqui. Assim, Guardiões da Galáxia Volume 2 cimenta sua relevância não apenas no universo Marvel, mas dentro de sua própria esfera de existência e, ao que tudo indica, a cada obra que passa prometerá esgarçar as possibilidades (relações, dramas, conflitos) das suas personagens. Particularmente, isso é um alento diante dos esforços nem sempre válidos do estúdio de estabelecer conexões mil entre todos os seus títulos. Não que Guardiões não crie alguns vínculos com o que ocorre na órbita da saga Vingadores, mas ele sobrevive dentro dos seus próprios termos e por isso tem uma preocupação extra em cuidar dos seus próprios personagens e tramas. Isso é bastante positivo.

Como universo cinematográfico, o mais interessante de Guardiões da Galáxia Volume 2 é perceber que ele sublinha uma característica que percebíamos no primeiro filme e que – sabiamente- foi mantida pela Marvel (que parece não ter sido seduzida pela popularidade do primeiro longa), os personagens dialogam com o grande projeto do estúdio (tanto que estarão no próximo filme Vingadores), mas estabelecem raizes firmes em seu próprio território, dando a entender que essa aproximação não será marcada por uma dependência excessiva. Com o segundo filme de sua franquia, James Gunn parece expandir as próprias possibilidades do universo dos Guardiões, trazendo até mesmo um grupo de personagens que, ao que tudo indica, pode gerar uma ramificação cinematográfica igualmente interessante encabeçada por ninguém menos que Sylvester Stallone. Não dá para ser mais cool que isso.

Atenção!!! Ao longo dos créditos há diversas cenas adicionais! Aliás, os créditos do próprio filme (!!!) são um show à parte. 

Assista ao trailer do filme:

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