Sly

Crítica: Sly

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Disponível na Netflix, o documentário Sly é uma produção original do serviço de streaming e narra parte da trajetória de Sylvester Stallone na indústria do entretenimento. A produção é uma forma de Stallone celebrar os 50 anos da sua carreira como ator, roteirista, diretor e produtor cinematográfico. Assim, Sly assume durante boa parte da sua narrativa o tom celebratório em torno do legado de Stallone, utilizando a própria narração do astro como fio condutor.

Meses atrás, a própria Netflix estreou em seu catálogo um projeto semelhante com o rival de Stallone, Arnold Schwarzenegger. Em muitos pontos, Arnold se beneficia do formato escolhido pelo documentário de Schwarzenegger, uma série documentário. Assim, a narrativa se dividiu em três episódios com temáticas bem delineadas que obedeceram a ordem cronológica dos eventos na trajetória do biografado: sua juventude e o início da carreira como fisiculturista, a ascensão em Hollywood e a trajetória de Arnold na política.

Sly, por sua vez, vai por um outro caminho. O documentário condensa toda a narrativa em um filme com cerca de uma hora e quarenta minutos de duração, tentando dar conta de um personagem que está na indústria desde a década de 1970. Claro que parte da vida de Stallone fica de fora, então os realizadores tentam fazer aqui uma síntese daquilo que talvez seja mais significativo e o que ganha relevância é a tão alardeada semelhança entre as trajetórias de Rocky Balboa, personagem que Stallone criou nas telas a partir de 1976, vencendo dois Oscars (filme e roteiro original), e a trajetória do próprio artista. Dessa forma, a vida de Rocky e Sly se embaralham no documentário e o primeiro serve para dimensionarmos a personalidade obstinada do segundo, um personagem da vida real.

Com Rocky como “farol”, Sly constrói Stallone como esse sujeito que em diversas fases da sua carreira foi desacreditado por Hollywood, conseguindo sobreviver em uma indústria cruel ao mostrar que era melhor do que muitos pensavam. O mais curioso é a forma como cada capítulo da história de Rocky Balboa preenche um momento de renascimento de Stallone na indústria, ou seja, como a franquia proporcionou ao artista um processo de avaliação constante da sua própria trajetória e exposição dos seus medos, expectativas, frustrações e desejos para a plateia por diversas gerações que acompanharam as histórias do mais famoso boxeador do cinema.

Sly

Sly é um filme celebratório do legado de Sylvester Stallone e a presença constante do ator na tela refletindo sobre erros e acertos desde o episódio em que narra como os problemas de saúde legados pelos exagerados esforços físicos em Os Mercenários evidenciou sua dificuldade em lidar com o tempo ou seu arrependimento pela ausência na criação dos filhos revela um personagem disposto a dimensionar sua psicologia da maneira mais honesta possível para o público. Sly é um exercício de auto-celebração do ator, mas está longe de ser uma narrativa puramente narcisista.

Os depoimentos de Stallone quando são intercalados por falas de críticos, do rival de tela Arnold Schwarzenegger e até do diretor Quentin Tarantino revelam também um filme disposto a tratar a trajetória do ator como objeto de pesquisa e reflexão crítica. Nesse sentido, o documentário vai além do óbvio, frisar a importância do astro no cinema de ação dos anos 1980.

Com tais esforços, mesmo que omisso em determinados capítulos da vida do biografado, Sly busca dimensionar a figura do seu protagonista como autor cinematográfico. Antes de ser um astro, Stallone é um roteirista, produtor, diretor e ator com uma assinatura própria em seu legado criativo. Com Rocky, por exemplo, – e Sly é muito bom ao frisar isso – Stallone conseguiu dar vazão a inquietações pessoais, aproximou o público das suas ideias e construiu de forma coerente a trajetória de um personagem tão emblemático em uma série cinematográfica tematicamente coesa, tornando-se um espelho pelo qual muitos conseguiram se inspirar.

Direção: Thom Zimny

Elenco: Sylvester Stallone, Arnold Schwarzenegger, Quentin Tarantino

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