Crítica: Café Society

Café Society é um filme sobre a melancólica lembrança daquilo que não foi vivido, mas também uma história sobre o fim da inocência e sobre o amadurecimento através da desilusão. O protagonista do mais recente filme do cineasta Woody Allen a chegar aos cinemas é Bobby, papel de Jesse Eisenberg, um rapaz que chega a Los Angeles cheio de sonhos e imaginando que um dia possa vir a trabalhar em Hollywood, sobretudo por ter parentesco com um conhecido produtor de cinema, Phil Stern, interpretado por Steve Carell. Bobby se apaixona pela secretária Vonnie, vivida por Kristen Stewart, mas o ingênuo rapaz é sabotado pelo jogo social que comanda a alta sociedade local e que faz desmoronar rapidamente o seu castelo repleto de idealizações pessoais e profissionais.

Como um bom exemplar da carreira de Woody Allen, Café Society traz em si o olhar clínico e cético do cineasta para as instituições, pessoas e relacionamentos. Como Café Society trata justamente da perda da ingenuidade do personagem de Jesse Eisenberg, ou seja, de como ele passa a perceber nas pessoas o oportunismo e a superficialidade que estavam ofuscados pelo sonho hollywoodiano, o filme acaba sendo um prato cheio para o realizador.  O longa também traz um certo esnobismo do cineasta para personagens que não compartilham a mesma bagagem intelectual que a sua ou mesmo para com os seus pares, o que é algo que, particularmente, incomoda no trabalho do realizador, já que por trás disso não existe apenas uma crítica, mas um desdém do cineasta com certas figuras mesmo. Há interessantes desempenhos de Jesse Eisenberg, que faz a lição de casa ao dar vida a um alter ego do próprio Allen, e Corey Stoll, que, assim como fizera em Meia-Noite em Paris, rouba a cena como o criminoso Ben Dorfman. Contudo, o destaque vai para Kristen Stewart, absolutamente magnética como Vonnie, modulando bem a insegurança da “mocinha” do filme e tornando-a mais do que uma simples musa alleniana.

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Em Café Society, há uma reverência clara do diretor e roteirista Woody Allen ao clássico Casablanca, que tem como um dos seus mais importantes temas o fantasma do amor não vivido pelos personagens de Humphrey Bogart e Ingrid Bergman. No filme de Allen, Eisenberg vive uma versão do icônico Rick Blaine e torna-se gerente de um importante café de Nova York frequentado pela alta sociedade americana. Através de Vonnie, Stewart vive uma Isla Lund, claro que envolta de outras circunstâncias, mas que retorna para a vida do protagonista e reacende toda uma memória do que fora vivido por ambos em Los Angeles, quando o personagem de Eisenberg  fora intoxicado pela paixão. Assim como Casablanca (apesar de não ser tão forte quanto o clássico de 1942), Café Society traz essa história de amor que não se realiza, mas que fica no âmbito das conjecturas, das memórias e dos  arrependimentos dos seus protagonistas. É um filme que encontra sua beleza dentro da melancolia que existe por trás dessa ideia.

Assista ao trailer do filme:

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