Halloween: A Noite do Terror

XVII Festival Panorama Internacional Coisa de Cinema: Halloween: A Noite do Terror

4.5

Como começar a escrever sobre um dos maiores clássicos de terror de todos os tempos? Sobretudo quando esta que vos escrever tem o filme como o seu preferido do gênero, é difícil saber como colocar em palavras toda a emoção que é assistir uma obra de John Carpenter na tela grande. Confissões à parte, revistando o longa-metragem Halloween: A Noite do Terror é possível compreender o que faz dele o que ele é.

A atmosfera de tensão e pavor, mesclada ao tom adolescente das personagens, de um lado tensiona o espectador e, do outro, o aproxima daquela realidade. Neste jogo de empatia e susto, o roteiro de Carpenter – escrito juntamente com Debra Hill (A Bruma Assassina) – brincam com a crença do público e surpreende por saber jogar com a suspensão e o relaxamento. Devido ao fato das mortes demoraram de acontecer, quando o primeiro assassinato ocorre, o impacto chega ainda maior.

A partir dali, do falecimento de Annie (Nancy Kyes), o massacre é sequencial e, ainda assim, o temor vai crescendo a cada minuto. A incerteza da sobrevivência das personagens é o que causa esta sensação. Já sem saber quais os limites do vilão Michael Myers (Tony Moran), a vítima fatal posterior é sempre uma dúvida. Até o destino da final girl, Laurie Strode (Jamie Lee Curtis), é posto em questão em diversas sequências, bem como a mortalidade do próprio Myers.

Nesta lógica, outros elementos técnicos fortalecem esta estrutura. Em seu decupagem e fotografia, Halloween tem um jogo de iluminação, enquadramento e movimentação de câmera que ampliam ou especificam o olhar para o ponto de tensão. É quase como se Michael fosse um Wally a ser procurado, para evitar se assustar com a sua presença que chega e some repentinamente.

Os momentos ápices desta estratégia é quando o serial killer está bem do lado de alguém e a pessoa não nota, até que seja tarde ou quase tarde demais. Esta apreensão contínua também é fomentada pelo fato das histórias que formam o enredo completo acontecerem de maneira paralela. Enquanto o Dr. Loomis, por exemplo, está na antiga residência de Myers e pode ser atacado a qualquer instante, Laurie cuida de duas crianças sozinhas. Onde Michael chegará primeiro?

Por fim, em termos positivos, pode-se dizer que o arremate final para a o longa ser bem sucedido é a sua música original, composta pelo próprio Carpenter. Atualmente é icônica, justamente por ela ser tão significante em transmitir as emoções que John parece desejar passar. Ela que marca as movimentações de Myers na tela, as viradas da narrativa, os respiros, o clímax e o desenlace.

Na verdade, toda a sonoridade presente na produção eleva a sua potencialidade, por este anúncio situacional bem colocado. No entanto, ainda que o longa seja tão bem executado, existem aspectos que envelheceram mal. A intenção não é retirar mérito algum seu, porém é necessário compreender que algo que foi lançando em 1978 pode conter um olhar desatualizado. Ao mesmo tempo, é importante convocar o ponto de vista de alguém que está fazendo uma crítica em 2021.

Dentre alguns fatores como diálogos sexistas, talvez, o maior desconforto seja mesmo a objetificação do corpo feminino, principalmente nas cenas de morte. Esta é uma característica insistente dentro do terror que, lentamente, vem sendo reconsiderada e atualizada. Contudo, a sexualização das mulheres nos momentos em que elas vão morrer é um tanto desagradável de acompanhar, sobretudo na contemporaneidade.

Halloween: A Noite do Terror continua sendo um marco para seu gênero e conseguiu em suas tantas continuações encaminhar a figura da mulher para locais um pouco menos machistas, principalmente nas sequências de 2018 e 2021. Todavia, ao menos, com todos o questionamentos que possam ser feitos, há sempre Laurie Strode para torcer até o último segundo.

Direção: John Carpenter

Elenco: Jamie Lee Curtis, Donald Pleasence, Nancy Kyes.

Assista ao trailer!