XII Panorama Coisa de Cinema – Crítica: A Professora de Música

Exibido no XII Panorama Coisa de Cinema, o filme A Professora de Música é uma produção baiana que se passa na cidade de Ipiaú. A narrativa mostra as alegrias e dificuldades de se fazer arte no interior do estado e a força de duas mulheres para realizar um evento artístico no local.  Aída (Jussara Mathias) é uma professora que possui uma turma com muitas crianças que estão iniciando sua vida musical. Com a ajuda de sua companheira e produtora Meu Bem (Paula Lice) elas lutam para fazer o primeiro recital de música da Escola Lá Maior.

Inicialmente, o longa foi exibido como uma série de televisão e, em seguida, transformado para filme. Dirigido pelo casal Edson Bastos e Henrique Filho, o longa mostra como muita doçura e simplicidade o desafio de se fazer cultura na Bahia, ainda que existam tantos talentos espalhados pelo estado.

O ponto de destaque da película é o elenco afinado e afiado. Aída é construída de forma muito correta. O público consegue enxergar as complexidades da personagem, os conflitos internos, forças e incertezas através de um único olhar da atriz. Mathias, que vem do teatro e tem muita força nos palcos, surpreende com uma interpretação leve e delicada, que demonstra uma sagacidade para expor as características centrais da professora, sem retirar o foco da trama.

Meu Bem é o equilíbrio das tensões dentro da narrativa. Ela é quem acalma e aconselha Aída. Paula Lice acerta no tom equilibrado entre firme e descontraída, além de segurar o filme em alguns momentos em que a dinâmica beira a cair. A relação das duas mulheres, ainda que sutilmente demonstrada, cria força nos gestos e no jeito em que se comunicam. Fica mais que claro que elas são um casal.

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Por fim, os atores mirins impressionam pela maturidade e sensibilidade da interpretação. Eles não se perdem na construção de suas personagens e possuem um forte carisma que cria uma empatia grande no público. Porém o destaque entre eles fica para as meninas Iasmin Simões e Giovanna Lima, que conseguem ainda mais emocionar e divertir o espectador, respectivamente.

O discurso do longa também é bem construído. Em uma única projeção ficam claras algumas angústias vividas por artistas e pela sociedade. Seja pela falta de financiamento e as dificuldades de se fazer arte na Bahia, pelo racismo que algumas crianças vivem na escola ou pela questão de trazer representatividade paras as telas vista na dupla protagonista.

Ainda assim, o filme peca em alguns aspectos. A montagem fica um pouco confusa em alguns momentos. Parece que a transposição de seriado para filme não foi tão bem executada pelos montadores. Alguns plots ficam deixados para trás, como a importância de um garoto (Rafael Loch) que afirma que precisa ficar em primeiro lugar, mas (spoiler) ele fica em terceiro e parece tranquilo com isso.

Outras questões de roteiro também incomodam, como o conflito com as caixas de som que trazem um tom bobo de comédia infantil de sessão da tarde. Ou o romance do garoto interpretado por Loch, que retira o foco principal da película em alguns momentos e ainda não ganha a força necessária para estar presente na narrativa.

A Professora de Música é um bom exercício audiovisual que abre espaço para abrir a mente do espectador, para que ele possa enxergar a arte em qualquer lugar, ainda que as situações nãos sejam favoráveis. Ainda que o longa peque em alguns aspectos é uma excelente escolha para uma tarde de domingo.

Fotos: Ana Lee Fotografia