Wonka (2023)
Timothée Chalamet em cena de 'Wonka (2023)' / Divulgação

Crítica: Wonka

Crítica: Wonka
3.8

O cinema vive um momento de grandes produções. Seja em orçamento, efeitos especiais, cenas de perseguição ou explosão, há muito que não se vê uma produção que carrega qualidade técnica e narrativa ao mesmo tempo que abraça o espectador. A sétima arte parece estar acompanhando a intensa velocidade da contemporaneidade, deixando de lado esse tipo de projeto que tira o público dessa aceleração e o embala num outro ritmo. O mais novo lançamento da Warner Bros, que chega nesta quinta-feira aos cinemas (7), no entanto, leva o espectador para esse tipo de jornada. Wonka desacelera a realidade do cotidiano do público para que ele possa mergulhar num universo de possibilidades.

A leveza e doçura do longa-metragem encanta desde seus primeiros minutos com o universo fantástico dos doces e sonhos que virá pela frente. O filme, dirigido por Paul King (As Aventuras de Paddington 1 e 2, respectivamente, de 2014 e 2017), é o tipo de produção que se precisa todo ano para renovar as energias e, especialmente, lembrar ao público o quanto é importante sonhar. O universo de fantasia criado em Wonka vai além do evidente empenho técnico dos departamentos de arte e fotografia. Essa empreitada parece vir de um desejo de preencher corações neste período festivo de fim de ano com a renovação do que há de mais precioso nas pessoas: a capacidade de acreditar.

O roteiro co-escrito por King e Simon Farnaby se inspira no conhecido personagem de Roald Dahl para costurar as canções e ações que guiam a narrativa de Wonka. É inevitável que os dois filmes sobre a Fantástica Fábrica de Chocolate (1971 e 2005) venham à mente, no entanto, é importante se afastar dessas imagens para que se aproveite ao máximo a nova experiência proposta neste longa. Os méritos das produções anteriores não são anulados com isso, é apenas necessário que se esteja aberto a ver esse universo já conhecido pelos olhos dos novos criadores. E, acredite, vale a pena dar uma chance para conhecer a história pregressa de como o mais conhecido chocolatier da literatura se tornou o famoso Willy Wonka.

Todos já conhecem a história da Fantástica Fábrica de Chocolate, mas está na hora de conhecer como Willy Wonka se tornou o maior criador de chocolates do mundo. Para isso, é preciso observar os primeiros momentos de sua carreira, enquanto ele começou a vender seus criativos e mágicos chocolates. Wonka (interpretado por Timothée Chalamet) precisará da ajuda e confiança de seus amigos, especialmente da jovem Noodles (interpretada por Calah Lane), para enfrentar o Cartel do Chocolate (interpretados por Paterson Joseph, Matt Lucas e Mathew Baynton) e enfim mostrar ao mundo do que é feito o seu sonho.

Wonka (2023)
Timothée Chalamet em cena de ‘Wonka (2023)’ / Divulgação

Através de uma roupagem fantasiosa e repleta de canções, Wonka embala o público numa jornada doce e encantadora. A fantasia está representada em sua forma mais pura: através da imaginação e crença de uma mente infantil. Ainda que Willy não esteja tão novo assim, suas intenções e desejos carregam a pureza da infância na tentativa de aproximar o espectador desse universo fantástico e musical que guia o longa. Essa união de forças e de gêneros cinematográficos resultam numa história divertida, leve, engraçada e carregada de afeto, capaz igualmente de emocionar e inspirar o público.

Essa pulsante vontade de gerar o potencial de acreditar em quem assiste parece ser a força motriz do projeto. Wonka, desde sua abertura, é construído com sucessíveis visuais de tirar o fôlego. Essa construção visual, guiada pelo desejo do roteiro de fazer com que o público acredite na fantasia, também é expressa na trilha sonora composta por Joby Talbot e nas canções originais de Neil Hannon. Os números musicais agradarão tanto os fãs de musicais como os espectadores mais resistentes aos mesmos por seu caráter imersivo nos acontecimentos da narrativa e pelo espaçamento entre uma canção e outra.

O projeto como um todo é extremamente coeso em sua missão de gerar encantamento enquanto se cria um espaço para acreditar. O elenco, por exemplo, é um dos principais promotores dessa força em Wonka. Comandados pelo jovem Chalamet (Duna, de 2021, e Até os Ossos, de 2023), o restante dos atores e atrizes do filme – sejam eles mocinhos ou vilões – dão continuidade à mescla de excentricidade, desconexão da realidade e pureza expressados pela interpretação de Timothée. Vale ainda destacar as contribuições excepcionais de Calah Lane, Paterson Joseph, Keegan-Michael Key (Super Mario Bros. O Filme, de 2023), Tom Davis, Olivia Colman (A Favorita, de 2018) e Hugh Grant (Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes, de 2023).

Wonka é uma jornada fantástica sobre o que a habilidade de sonhar e acreditar em seus sonhos pode fazer. É um filme que inspira algo de sensível e doce no público e é a mensagem que se precisa para encerrar o ano bem. O projeto é a dose certa de excentricidade com o irônico para construir uma história cativante e crível para um dos personagens mais conhecidos da literatura fantástica infantil. Chalamet consegue honrar as interpretações anteriores sem perder de vista a sua própria potencialidade individual. E é essa receita de exageros controlados que fazem de Wonka o filme que muitos duvidaram, mas todos precisávamos.

 

Direção: Paul King

Elenco: Timothée Chalamet, Calah Lane, Keegan-Michael Key, Paterson Joseph, Matt Lucas, Mathew Baynton, Sally Hawkins, Rowan Atkinson Jim Carter, Tom Davis, Olivia Colman e Hugh Grant

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