Crítica: Peter Pan

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A origem: A amizade entre Peter Pan e Gancho é o mote de Peter Pan

 

Peter Pan, no original somente Pan, nasceu como um projeto que traria para o público as origens dos personagens criados por J.M. Barrie em seu homônimo. Como Peter foi parar na Terra do Nunca? Como ele se tornou o líder dos Garotos Perdidos? E, ainda, como Peter conheceu aquele que mais tarde viria a ser o seu maior inimigo, o capitão Gancho? O filme, portanto, se apresenta como uma variação de uma tendência recente em Hollywood de adaptações de contos de fadas em live action. Em Peter Pan, ao invés de preservar a história tal qual a conhecemos, o diretor Joe Wright e os produtores responsáveis resolveram buscar nas origens do personagem a verdadeira razão de ser do filme em meio a tantas leituras do mesmo universo. As intenções são muito bem-vindas e até certo ponto Wright consegue imprimir uma certa originalidade na sua versão de Peter Pan, o problema é que depois de meia hora de projeção a história desanda e o que o público acompanha é um exemplar genérico e completamente supérfluo do gênero fantasia que não cumpre nem a metade da sua proposta inicial.

Como já adiantamos, Peter Pan traz a história da origem do personagem icônico das histórias infantis. O diretor Joe Wright e o roteirista Jason Fuchs iniciam a sua trama com Peter sendo deixado pela sua mãe em um orfanato administrado por freiras. Peter cresce em meio às injustiças e maus tratos do lugar até que durante uma madrugada é capturado por piratas a mando do perverso capitão Barba Negra, para quem passa a trabalhar nas minas da Terra do Nunca. Lá, Peter conhece um jovem chamado James Gancho e descobre que está predestinado a liderar o povo da Terra do Nunca contra as maldades de homens como Barba Negra.

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Vilão: Hugh Jackman encarna o perverso Capitão Barba Negra

 

À primeira vista, Joe Wright parece ser o diretor ideal para conduzir a releitura de qualquer clássico. O realizador fez maravilhas com sua “trilogia” protagonizada por Keira Knightley, tornando possível não apenas a adaptação para as telonas de textos de autores tão diversos e difíceis como Jane Austen (Orgulho e Preconceito), Ian McEwan (Desejo e Reparação) e Leo Tolstoy (Anna Karenina) como também pertinente o seu olhar cinematográfico particular para a proposta desses escritores em seus respectivos livros. Em Peter Pan, o Joe Wright inquieto e inventivo parece estar presente apenas em meia hora de projeção para logo ceder lugar a um diretor que está apenas cumprindo a sua função de empregado de um estúdio interessado em fornecer ao espectador um blockbuster genérico.

O início de Peter Pan é relativamente interessante. A dinâmica de Peter e os garotos no orfanato, o sequestro do protagonista pelo grupo do Barba Negra e a apresentação do vilão de Hugh Jackman ao som de “Smells like teen spirit” do Nirvana são os pontos altos do filme. Logo em seguida Peter Pan se transforma em um remedo de tramas e ações que não capturam a atenção do espectador, que fica indiferente ao destino do seu protagonista até o desfecho do filme.

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Tropeços: Filme falha por não levar a sério a sua proposta inaugural de narrar a origem da fábula de maneira inventiva

 

Há uma série de referências ao clássico de J. M. Barrie, entre eles a origem dos nomes Gancho, Sininho e Garotos Perdidos, mas tudo é tão evidente que nenhum desses momentos chega a ser fruto do brilhantismo dos seus realizadores, por exemplo, O que fica mais evidente, no entanto, é a maior lacuna em Peter Pan: o longa não entrega as razões para a transformação do Gancho no vilão que conhecemos. Acreditando pretensiosa e gananciosamente que o filme terá uma continuação direta (o que hoje não é uma garantia), os envolvidos resolvem postergar o momento, fazendo com que Peter Pan perca o seu principal mote e aquele que poderia ser um clímax dramático que tiraria a narrativa da completa pasmaceira.

Com atores do porte de Hugh Jackman, Garrett Hedlund e Rooney Mara sem ter muito o que fazer em cena e com Levi Miller como um jovem protagonista que não compromete o longa, mas também não consegue cativar a plateia, Peter Pan mostra-se como um filme completamente banal, algo inédito na carreira de Wright, que mesmo em filmes considerados medianos e de pouca repercussão como O Solista ou Hanna fazia questão de deixar sua forte personalidade prevalecer na história. O que vemos em Peter Pan é um filme que não consegue cumprir o que prometera ao seu público. O longa parece preferir perder o seu tempo com sequências de ação redundantes, romances que não dizem a que veio e referências ao original jogadas de qualquer jeito na tela ao invés de gerar qualquer empatia espontânea na sua plateia.