Crítica: Passageiros

Passageiros é pretexto para reunir pela primeira vez nas telas duas das maiores forças de Hollywood no momento, Chris Pratt (Jurassic World e Guardiões da Galáxia) e Jennifer Lawrence (das franquias Jogos Vorazes e X-Men), dois nomes que conseguem bancar as bilheterias das produções que  têm encabeçado em tempos nos quais o star system parece coisa do passado. Não dá para ser ingenuo quanto a isso, nem cínico também.  O romance no espaço protagonizado pelos atores funda-se nas mesmas bases que outrora reuniram Julia Roberts e Brad Pitt em A Mexicana ou Angelina Jolie e Johnny Depp em O Turista, ambos, por sinal, verdadeiros fiascos criativos. Passageiros passa longe disso, mas não deixa de ter fragilidades o suficiente para afastá-lo daquilo que a reunião dos seus protagonistas de fato mereciam.

Em Passageiros, Pratt e Lawrence interpretam um mecânico e uma escritora submetidos a um programa de colonização de um novo planeta. Devido a um mal funcionamento das cabines que os levam a um sono de 90 anos, ambos acordam mais cedo do que o previsto para a concretização do intuito do programa. Sozinhos, os dois únicos passageiros da Avalon acordados começam a desenvolver um relacionamento, mas são surpreendidos por uma outra instabilidade na nave que põe em risco a vida dos demais companheiros.

 

Dirigido por Morten Tyldum (de O Jogo da Imitação), Passageiros é sabotado pelo roteiro desleixado de Jon Spaiths (Prometheus e Doutor Estranho). O trabalho a toque de caixa do roteirista não só simplifica seus personagens a características superficiais como também parece não se importar muito em oferecer situações que os insira em conflitos dramáticos mais interessantes e que talvez pudessem fazer a história do longa de fato engrenar. Da revelação feita a personagem de Jennifer Lawrence em um bar à súbita pane na nave que (claro) somente o personagem de Pratt pode solucionar, culminando ainda com o romance sem vida do casal principal (aliás, um graveproblema em se tratando de um longa que pretende ser antes de mais nada um romance), Passageiros é um filme estéril, artificial. O espectador não sente absolutamente nada por ele, pelos seus protagonistas, pela situação que são submetidos. Nada. Para complicar ainda mais o novelo de problemas que o roteiro do longa cria para si, as bases do relacionamento entre os protagonistas  tornam-se ainda mais questionáveis quando o filme, atabalhoadamente, cria atenuantes para as ações do personagem de Pratt e alterna a posição da personagem de Lawrence entre a submissão e a culpa, um estratagema batido e ultrapassado, convenhamos.

Assim, mesmo que as duas grandes razões para Passageiros ser concebido, Chris Pratt e Jennifer Lawrence, sigam demonstrando muito carisma e magnetismo em todo o filme, além de uma ótima sintonia, o longa que eles protagonizam não faz muito pelo casal. Passageiros é um passatempo moderado, tem lá a sua dose de entretenimento e não chega a agredir a plateia como a média de longas similares, mas insiste em ficar na superfície e na artificialidade, quando poderia ir além e tem ferramentas para isso. No final das contas, poderia ter levado seu emblema de “Titanic encontra Gravidade” mais a sério.

P.S.: Entrei e sai da sessão sem entender a razão para um ator do calibre de Andy Garcia entrar mudo e sair calado de Passageiros.

Assista ao trailer do filme: 

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