Crítica: O Filho Eterno

O longa nacional traz a história de um casal que aguarda ansiosamente a chegada de seu primeiro filho. No entanto, dado o nascimento do menino, eles têm uma surpresa ao descobrir que o bebê é portador da Síndrome de Down, que na época em que o filme se passa não era facilmente identificável no período gestacional. O enredo mostra, então, a relação ambígua que os pais tem com o menino e as diferentes formas de acolhimento àquela condição especial e inesperada.

A narrativa traz discussões e reflexões importantes para o espectador, como a relação com a Síndrome, que é relativamente pouco debatida no cinema, especialmente nacional. A história se passa nos anos 1980, quando o uso do termo “mongol” era aceitável, por exemplo. Referindo-se à questão do ano em que o filme se insere, a equipe de figurino e cenário foi muito cuidadosa e brilhou ao apresentar um verdadeiro Brasil de antigamente, com cada detalhe e produtos antigos, sem deixar dúvidas que estamos inseridos naquele período.

O casal principal protagonizado por Marcos Veras e Débora Falabella funciona muito bem como núcleo principal e mostra bem a dicotomia entre a aceitação e a rejeição à condição do menino. O pai tem sérias dificuldades em aceitar tudo aquilo, enquanto a mãe acolhe tudo na medida do amor e do possível. É como se o filho fosse “defeituoso” para ele. Deseja, em muitos momentos, que o garoto não exista e até comemora quando descobre que a expectativa de vida de crianças com Down é relativamente baixa.

Durante todo o filme, o debate é este. A difícil aceitação do pai, que nega até o último instante a condição do filho, tem vergonha de assumir, começa a trair a esposa para tentar ter uma vida “normal”. Nada disso, no entanto, faz com que ele consiga fugir do “beco sem saída” que é a condição de cuidar do filho para sempre. Embora isso seja um pouco complicado de lidar, faz sentido devido a época em que o filme se passa, quando os procedimentos e tratamentos eram outros e bem precários.

O filme peca em muitos momentos de finalização, com desfechos sem graça e óbvios demais. Mas fica bem claro que não é este o objetivo principal do longa, e sim o debate sobre a Síndrome de Down como um todo. E este objetivo é cumprido com muita maestria. Envolvendo o futebol no roteiro como pico variante da felicidade dos protagonistas, o diretor consegue emocionar o espectador sem apelar tanto e mostrando que é possível transformar o preconceito em amor.

Assista ao trailer!