Nomadland

Crítica: Nomadland

4.2

A busca reflexiva sobre novos propósitos, depois que a vida te impõe grandes e impactantes mudanças. Esta é a premissa de Nomadland, filme que conta com seis indicações ao Oscar 2021 (Melhor Filme, Melhor Atriz, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Direção, Melhor Fotografia e Melhor Montagem). Com a Frances McDormand (Três Anúncios Para Um Crime) no papel principal, este é um longa que merece toda a sua atenção pelo cuidado e qualidade do roteiro.

Fern é uma mulher de 60 anos que foi demitida com o fechamento de uma grande empresa durante o colapso econômico de uma cidade na zona rural de Nevada, além de ainda lidar com o luto da morte do marido, seu companheiro de vida. Sem perspectiva do futuro, ela agora mora em sua van e decide levar uma vida nômade, experimentando novas possibilidades que vão surgindo ao longo da estrada. E é ao longo desta estrada que vamos conhecendo as nuances da personagem, suas demandas e anseios, e o que a vida reserva para ela à cada curva.

O roteiro e direção da novata Chloé Zhao são completamente contrários a ideia de que experiência é fundamental na construção de uma boa obra. Ela imerge o espectador numa aura de autoconhecimento e descoberta, como se estivéssemos dentro das reflexões que a personagem vai tendo ao longa da sua viagem sem ponto final. Compreendemos a falta de expectativa e tão longo não sentimos mais a necessidade de um grande ápice na história.

Zhao toma decisões muito acertadas ao insinuar certos caminhos na trama, mas sem necessariamente tomá-los. O foco ali, o tempo todo, é a jornada de Fern e não um objetivo específico a ser alcançado. A medida que a história evolui, entendemos um pouco mais sobre o estilo de vida nômade, que é relativamente comum nos Estados Unidos, especialmente pela existência mais massiva de trailers que facilitam a vida na estrada. Nomadland (que pode ser traduzido como “lugar nenhum”) tenta traçar o perfil das pessoas que escolhem este modelo de residência e o que as levas até ali. Além de normalizar e tirar o estereótipo que porventura possamos ter sobre os nômades modernos.

Nomadland

Na imersão que temos com Fern, seu jeito pacato e pouco efusivo, compreendemos suas emoções como mais contidas, mas não menos intensas. Ela vai mostrando sua personalidade e vontades a medida que vai se conhecendo e assumindo suas demandas. Frances faz um trabalho extraordinário de equilibrar a leveza de personagem com o peso do luto, a tensão da ausência de rumo inicial, etc. É um papel que parece que foi criado para ela e se beneficiou 100% por essa combinação. Ela reina absoluta pela trama, onde alguns coadjuvantes vão surgindo e passando, assim como os cenários da estrada.

Cenários esses que funcionam como um outro personagem em Nomadland. Não é à toa que recebeu indicação de Melhor Fotografia. Todas as paisagens que surgem no caminho de Fern são inseridos na trama de modo a complementar as emoções que estão sendo vivenciadas pela protagonista. Um trabalho impecável do começo ao fim.

Vale ressaltar que o longa já ganhou nas categorias de Melhor Filme de Drama e Melhor Direção no Globo de Ouro. Então é com boa expectativa que aguardamos o reconhecimento dele no Oscar deste ano, mesmo que não seja exatamente o favorito. Ele ainda não está disponível nas plataformas de streaming, mas logo será lançado para locação.

Com seu clima mais monótono de construção de trama, Nomadland é uma excelente análise sobre a vida do nômade moderno e a jornada de autoconhecimento de uma mulher de meia idade. O que somos? O que queremos da vida? São reflexões que surgem e ficam no personagem e no espectador.

Direção: Chloé Zhao
Elenco: Frances McDormand, David Strathairn, Gay DeForest, Linda May, Charlene Swankie, Bob Wells, Cat Clifford

Assista ao trailer!

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