Meu Irmão

Crítica: Meu Irmão

Filmes que tratam sobre a dificuldade sofrida por jovens em reformatórios não são novidade. Lá atrás, em 1959, François Truffaut trazia seu magnífico, Os Incrompreendidos. Recentemente, em 2012, Temporário 12 também adaptou com profunda sensibilidade o tema. Aliás, ainda neste ano, a Netflix contou com uma produção espanhola que abordou relação de um menino com o cachorro dentro de um reformatório, Dezessete. Portanto, em qual patamar se encontra Meu Irmão (Mon Frère), novo filme francês do serviço de streaming, que retoma esta problemática social? Infelizmente, o longa está bem abaixo de todos os citados acima.

O uso da palavra “infelizmente” não é à toa. Afinal, Meu Irmão traz a história de Teddy (MHD), jovem negro enviado a um reformatório, após ser acusado de matar seu pai, que era um agressor. Com dificuldades de se relacionar, Teddy começa a sofrer perseguição dos outros meninos. A situação chegou a um ponto que ele estava sofrendo até ofensas racistas e homofóbicas de Enzo (Darren Muselet), o líder da “gangue”. Todavia, quando Mo (Najeto Injai), outro rapaz negro — só que de personalidade muito mais forte — chega ao reformatório, eles começam a dar o troco em Enzo.

Logo, é uma pena que um assuntos tão relevantes — que vão desde a menoridade penal, o abuso infantil, racismo e até a homofobia — sejam tratados de maneira tão sem foco e até com um certo sadismo. O diretor Julien Abraham (Made in China) parece querer mostrar a crueldade e a visceralidade deste submundo, mas acaba não acrescentando nada de construtivo, tanto em termos educativos como uma experiência sensorial. Ao invés de focar na verdadeira questão central dos problemas, o longa se perde naquele jogo de provocações dos adolescentes.

Meu Irmão

Primeiramente, porque o roteiro não respeita as características de seus personagens. Por exemplo, Teddy, no primeiro ato, ia para cima de todas as ofensas raciais que sofria. Posteriormente, ele desenvolve um relacionamento amistoso com Enzo, o mais racista de todos. Além do mais, é bem contraditório o fato de que toda a argumentação do filme vai para um viés antipunitivista, mas, ao mesmo tempo, o acontecimento-chave para uma redenção de Enzo é uma cena bem cruel e brutal contra seu personagem. Tudo isso em prol de levar a narrativa para frente, mas que não faz sentido internamente.

Por outro lado, ignorando as decisões do roteiro, Abraham nunca consegue realmente criar uma simpatia por seu protagonista. Teddy é tão fechado, que há uma linha muito tênue entre sua introspecção e uma certa arrogância. Não só isso, mas a montagem, que vai alternando entre o presente no reformatório e o passado com o pai violento, segura ao máximo um momento de uma revelação crucial do filme. Quando entendemos melhor as motivações do garoto, Meu Irmão se encerra.

No fim, Meu Irmão deixa um grande senso de incompletude no ar. Não que um filme precise de um final fechado e bem amarrado, mas neste caso chega a ser um grande anti-clímax. Ao tentar abordar vários temas, a narrativa não consegue fechar nenhum deles apropriadamente. Pior ainda, pois retrata o espaço do reformatório como um antro de crueldade em prol de uma mensagem sobre o sistema prisional que nunca alcança sua catarse desejada.

Diretor: Julien Abraham

Elenco: MHD, Darren Muselet, Aissa Maiga, Jalil Lespert, Najeto Injai

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