Halloween Ends (2022)
Cena de "Halloween Ends" (2022)

Crítica: Halloween Ends

Crítica: Halloween Ends
2.5

A antecipação é uma das armas mais poderosas para grandes produtoras e distribuidoras de filmes. A espera dos fãs por um novo projeto de determinado nicho ou um novo capítulo de uma saga querida costumam encher salas de cinema mundo afora e arrecadar montanhas de dinheiro. No entanto, essa mesma antecipação pode ter seus perigos. Quanto mais alta a expectativa, mais alta pode ser a decepção do público ao ver que o tão sonhado longa-metragem não alcançou seus desejos.

Seria esse o caso de Halloween Ends? O capítulo final dessa trilogia sobre uma das maiores franquias de terror da história chega aos cinemas nesta quinta-feira (13) com a promessa de ser o confronto definitivo entre o bem e o mal. O embate entre Laurie Strode e Michael Myers obviamente acontece, mas o restante da narrativa não é bem o que se espera. Assim, o que havia sido anunciado como uma história épica e inesquecível na verdade tem seus percalços ao longo dos seus 111 minutos de duração.

Após os eventos do Halloween de 2018, a pacata cidade americana de Haddonfield se viu sem novos traumas, mas também sem pistas sobre o paradeiro do temível bicho-papão local. No entanto, depois de quatro anos escondido, Michael Myers (James Jude Courtney) retorna à sua cidade natal para, enfim, ter o embate final com sua vítima favorita, Laurie Strode (Jamie Lee Curtis).

É claro que o longa não se distancia completamente da sua promessa. Halloween Ends segue marcando a última batalha entre a primeira final girl e um dos bichos-papões mais conhecidos do cinema slasher. Da mesma forma, a produção também volta às origens e cria imagens similares às feitas por John Carpenter (O Enigma de Outro Mundo, de 1982, e À Beira da Loucura, de 1994) em seu filme original de 1978. No entanto, o trajeto para chegar ao momento esperado há mais de 40 anos pelos fãs da franquia foi repleto de subplots confusos e distantes do que se espera de Halloween.

Mas, para entender os deslizes de Halloween Ends, é preciso retornar ao seu início. David Gordon Green (O Que Te Faz Mais Forte e Halloween, ambos de 2018) ao lado de seu companheiro de criação do conceito dessa trilogia, o produtor, ator e roteirista Danny McBride (Alien: Covenant, de 2017, e A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas, de 2021) começaram o processo com uma requel (continuação direta que refaz alguns conceitos da saga) fiel ao filme originário, sem perder suas características próprias. Em Halloween Kills: O Terror Continua (2021), Green e McBride ampliam a história, dando um enfoque maior nas consequências e marcas deixadas pelo terror causado por Michael. Apesar do pano de fundo interessante, isso já colocou de lado a personagem principal de Jamie Lee.

Halloween Ends (2022)
Jamie Lee Curtis e James Jude Courtney em cena de “Halloween Ends” (2022)

Agora, no terceiro capítulo dessa narrativa banhada por sangue e cicatrizes, os co-criadores da trilogia vão além (e não no bom sentido). As feridas abertas das Strode e da própria cidade de Haddonfield dão espaço para um romance shakespeariano e um enfoque num novo personagem. E é preciso entender que, para durar três filmes, a história deveria se expandir. Ainda que com os problemas, a dimensão social trazida em Halloween Kills é interessante e inteligente, mas, em Halloween Ends, essa extrapolação mais parece encheção de linguiça do que uma verdadeira ferramenta narrativa.

Esses artifícios de dilatação da história soam, em muitos momentos, frágeis e sem propósito. Os fãs da franquia aguardaram 44 anos para ver A Figura ter seu fim sob as mãos da final girl original e isso parece ser secundário durante mais da metade de Halloween Ends. No lugar do confronto final, vemos Laurie proibindo um amor tão rápido e perigoso quanto o de Romeu e Julieta. E, como dito anteriormente, quanto maior a expectativa, maior a decepção quando ela não é atendida.

É uma pena ver uma produção com tanto potencial ir desmoronando ao longo dos anos. O que começou como uma promessa de paixão e qualidade aos fãs de Halloween, termina com um gosto amargo de interferência da máquina hollywoodiana de fazer dinheiro. Ao menos, a tão aguardada sequência final de luta entre Laurie e Michael foi digna. Um embate cheio de sombras, dor e momentos de tensão, como Green e McBride souberam fazer em Halloween (2018).

Ainda que com suas falhas e deslizes, Halloween Ends demarca o fim de uma história que mudou o cinema de terror e deu vida aos filmes slashers. A franquia Halloween parece ter tido um encerramento que, com problemas ou não, se mostra mais coerente e coeso do que as versões anteriores. Falta agora saber o que o futuro guarda aos fãs da franquia porque, como a própria Laurie diz no longa, o mal não morre, ele apenas muda de forma.

Direção: David Gordon Green

Elenco: Jamie Lee Curtis, Andi Matichak, Rohan Campbell, Will Patton, Kyle Richards e James Jude Courtney

Assista ao trailer!