Coisa de Cinema

“Um refúgio da saudade”: XIX Panorama Internacional Coisa de Cinema acontece em março

Durante a coletiva de imprensa, realizada para a divulgação dos selecionados para as mostras competitivas do Panorama Internacional Coisa de Cinema 2024, a curadora do evento Ceci Alves discursou sobre o ofício da escolha de obras para um evento como o Panorama e entre uma lista de frases belas, Ceci brindou o mundo com a sentença que encabeça esta matéria.

E, de acordo com a equipe do evento, a beleza, a poesia e a arte também estão presentes nesta nova edição do festival de cinema vigente mais importante para Salvador. Assim, entre os dias 14 a 20 de março, a população soteropolitana pode escolher entre as projeções no Espaço Glauber Rocha, com ingressos de R$12 a inteira, R$6 meia ou 10 ingressos por R$55 (passaporte) e também na Sala Walter da Silveira, gratuitamente.

Com este cenário, neste mês, o centro da cidade ferve com sessões de cinema e diversas outras atividades. No total, o Panorama exibe 138 longas e curtas-metragens, com horários à tarde e à noite. Os números parecem grandes, mas foram recebidos 1355 envios de inscrições. Deste valor foram escolhidas 73 produções, integrantes das competitivas baiana, nacional e internacional.

A curadoria foi formada por Marília Hughes, Claudio Marques, Génesis Nascimento, Ceci Alves, Rafael Saraiva, Rafael Carvalho, Adolfo Gomes e João Paulo Barreto. As habilidades e trabalhos de cada um deles pode ser conferida no link disponibilizado no site do projeto. Além da programação dentro das salas de cinema, são ofertados dois laboratórios, chamados Pan Lab, sendo um destinado para roteiro e outro para montagem, com os facilitadores Aleksei Abib, Ceci Alves e Iana Cossoy Paro; em uma e Cristina Amaral, na outra, respectivamente.

Além disso, mais uma vez, acontece a Oficina da crítica de cinema, com o jornalista e pesquisador Rafael Carvalho. Os participantes, além de contar com o ensino teórico e prático do ofício, podem ter a oportunidade de integrar o Júri Jovem tanto na competitiva baiana quanto na nacional. Para completar esta listagem de atrações da sua  19ª edição, o Panorama homenageia os artistas Glauber Rocha e Castro Alves.

“Ambos eram românticos, eloquentes e trágicos. Castro e Glauber eram carismáticos e magnéticos, os dois gritavam as grandes causas e falavam com o coração.  Dois artistas singulares, que romperam o tempo-espaço”, comenta Cláudio Marques, idealizador e coordenador do Panorama. Indo além das homenagens aos que já foram, Cláudio, celebra todes que acompanham o evento há tanto tempo.

Para ele, há uma beleza em observar diversas gerações que vão surgindo e fazendo parte do Panorama Internacional Coisa de Cinema. Além disso, o realizador salienta a importância do novo apoio do município para com a iniciativa, o que lhe foi uma grata surpresa. Através do SalCine, foram investidos mais de R$30 milhões dentro do setor na capital da Bahia.

“De fato, a prefeitura começou a se importar com o audiovisual na cidade. Isso é uma das novidades mais interessantes. O trabalho que está sendo feito mostra que há um interesse genuíno em apoiar a área e acredito que novas coisas virão por aí”, comenta.  A afirmação de Cláudio é confirmada por Felipe Dias Rêgo, gestor de audiovisual da Secretaria de Cultura e Turismo.

Após os elogios e as palmas da plateia, Felipe declarou que a lógica sobre o desejo da prefeitura de ampliar os financiamentos para a área do cinema está correta. De acordo com o gestor, o intuito com a criação do SalCine é fortalecer a cena cinematográfica soteropolitana, contribuindo justamente para essa cadeia produtiva da cidade. Felipe também relata a sua alegria em poder patrocinar o Panorama, através de uma política pública.

Mas, ainda na lógica de agradecimento aos apoios financeiros, durante a coletiva a equipe do festival salientou a relevância do patrocínio do Instituto Flávia Abubakir, que desde a sua inauguração, há três anos, contribui para a manutenção do Espaço Glauber Rocha, incluindo o Panorama. De acordo com Marília Hughes, uma das criadoras, organizadoras e curadoras do evento, dentro deste movimento de abrir a fala para agradecer investidores, o registro maior dado pela iniciativa é o da importância de se investir em cultura, sobretudo no audiovisual. 

“O festival acontece em cinemas de rua, isso faz parte da nossa luta, da nossa resistência. E somos convidados a mergulhar nessa jornada, da riqueza de sair de um filme baiano e entrar em um filme de Camarões e a gente também tem uma produção nacional riquíssima”, explica Marília. Neste sentido, ela destaca o quão intensa está a programação que, em sete dias, possui mais de 130 filmes sendo projetados no Glauber e na Walter da Silveira.

Há também, de acordo com Marília, uma boa relação com os cineastas que inscrevem as suas produções e participam intensamente das atividades ofertadas pelo Panorama. Lara Carvalho é um destes exemplos. A diretora e pesquisadora, que estava presente durante a coletiva, narra como sua história com o festival é antiga, iniciando em 2010.

Começando como público cativo e participando da oficina de crítica de cinema, que era facilita pelo jornalista João Carlos Sampaio, Lara conta que também trabalhou na produção do evento, seja na parte de receptivo, logística e até mesmo das ações educativas. Depois de quase dez anos na área de produção, a cineasta e comunicóloga decidiu seguir outros rumos e focar na realização de obras cinematográficas.

Com este foco maior na sua carreira autoral, outros processos complexos vieram, que a encaminharam a trabalhar diretamente com dores e questões pessoais. “Passei por um aborto espontâneo, que é o tema de 56 Dias. Eu senti que precisava elaborar tudo aquilo que eu senti de alguma forma, e a escrita e o cinema são as formas que eu conheço. Um texto virou um roteiro que virou um projeto que virou um filme. E agora esse filme vai estrear num festival que é muito querido pra mim, que faz parte da minha trajetória enquanto cineasta também”.

Além de 56 dias, outros longas e curtas são exibidos pelo festival, para conferir todos os selecionados dentro das competitivas, leia a lista logo abaixo da matéria. Já para acessar a programação completa do Panorama, acesse: https://panorama.coisadecinema.com.br/programacao/ 

Competitiva Baiana

Longas

  • A Matriarca – Lula Oliveira
  • Café, Pépi e Limão – Adler Kibe Paz e Pedro Léo
  • Cosmovisões – Marcilia Cavalcante
  • Diário da Primavera – Fabíola Aquino e Juliano de Paula Santos
  • Dois Sertões – Caio Resende e Fabiana Leite
  • Sysyphus – George Neri
  • No Rastro do Pé de Bode – Marcelo Rabelo

Curtas

  • 56 dias – Lara Carvalho
  • A Faísca – Gabriela Monteiro
  • Além da Cancela – Margarete Jesus
  • Benção – Mamirawá e Tainã Pacheco
  • Caluim – Marcos Alexandre
  • Camaleoa – Eduardo Tosta
  • Cobaias Habitam meu Sonho – Ramon Coutinho
  • Curacanga – Mateus Di Mambro
  • Desamarras – Ianca Oliveira 
  • É d’Oxum: A Força que Mora N’água – Dayane Sena
  • Felipa – Ana Clara Pereira
  • Kiriri 11/11 – Kian Shaikhzadeh
  • Lamento às Águas – Vilma Carla Martins
  • Movimentos Migratórios – Rogério Cathalá
  • Mulher Vestida de Sol – Patrícia Moreira
  • O Homem que Virou Castanha – Natan Fox
  • O Tempo das Coisas – Lara Beck
  • O Tratado do Vão Combate ou A Pequena História de uma Bixinha Qualquer – Márcio Januário e Henrique Drebes 
  • Por que Não Ensinaram Bixas Pretas a Amar? – Juan Rodrigues
  • Sagrado Compor – Henrique Dantas e Marcelo Abreu
  • Solange Não Veio Hoje – Hilda Lopes Pontes e Klaus Hastenreiter
  • Sucata Esperança – Rogério Luiz Oliveira e Filipe Gama
  • TAMBA: Sinfonia do Invisível – Genilson Nery
  • Todos os Olhos – Wayner Tristão
Competitiva Internacional 

Longas

  • A Audiência / L’Audience (Canadá) – Émilie B. Guérette e Peggy Nkunga Ndona
  • Acromático / Achrome (Rússia/Alemanha/Israel) –  Maria Ignatenko
  • Astracã 79 / Astrakan 79 (Portugal) – Catarina Mourão
  • Júlia Não se Case / Julia no te cases (Argentina) – Pablo Levy
  • Mátria / Matria (Espanha) – Álvaro Gago
  • O Espectro do Boko Haram / Le Spectre de Boko Haram (Camarões/França) – Cyrielle Raingou

Curtas

  • 48 Horas / 48 Hours (Irã) – Azadeh Moussavi
  • A Árvore Frutífera / The Fruit Tree (Bélgica) – Isabelle Tollenaere
  • A Passagem / The Passing (EUA) – Ivete Lucas e Patrick Bresnan
  • Aqueronte (Espanha) – Manuel Muñoz Rivas
  • Criando Praias Luminosas / Hacer Orillas Luminosas (Paraguai/Argentina) – Maira Ayala
  • De Volta / Back (Países Baixos) – Yazan Rabee
  • Dildotectônica / Dildotectónica (Portugal) – Tomás Paula Marques]
  • Nada Disso / Nada de Todo Esto (Argentina/Espanha/EUA) – Patricio Martínez e Francisco Cantón
  • Os Nadadores / Los Nadadores (Costa Rica) – Charlie López
  • Swan no Centro / Swan dans le Centre (França) – Iris Chassaigne
  • Tria (Itália) – Giulia Grandinetti
  • Yaa (Gana/França) – Amartei Armar