Belfast

Crítica: Belfast

4.2

Belfast é o tipo de filme que vai nos abraçando aos poucos, a medida que vamos conhecendo os personagens e suas histórias. Como uma pessoa nova que te conquista verdadeiramente, momento após o outro. O longa do incrível Kenneth Branagh (Morte no Nilo) narra a história de uma família protestante na Irlanda dos anos 1960, em meio a conflitos religiosos e de classes trabalhadoras, que tornam a cidade bastante perigosa.

Rapidamente somos apresentados a Buddy (Jude Hill), um carismático garotinho que consegue manter seus sonhos e a esperança, mesmo em meio a tantos problemas que o circulam. Seu pai (Jamie Dornan, Cinquenta Tons de Liberdade) trabalha em outra cidade para conseguir dar conta de sustentar a família. A mãe (Caitriona Balfe, Ford vs. Ferrari) tem que lidar com a ausência constante do marido, as contas atrasadas chegando e dois filhos de idades bem diferentes, cada um com seus conflitos. O pequeno ainda tem avós carinhosos e presentes, vividos maravilhosamente por Ciarán Hinds (O Primeiro Homem) e Judi Dench (Assassinato no Expresso do Oriente), que complementam o arco familiar.

O roteiro vai equilibrando a dinâmica do caos que acontece em Belfast com as nuances de vida de Buddy. Ele vai conhecendo o mundo, descobrindo novas coisas. As suas prioridades são simples: sentar ao lado da menina que é apaixonado, comer doces, matar a saudade do pai que idolatra. Estamos constantemente sendo mostrados sobre como a vida consegue ser leve, mesmo quando o mundo parecer não ser. Tempos simples que fazem o espectador refletir sobre quais as nossas prioridades atualmente.

Belfast

A medida que a história avança, vamos sendo ainda mais conquistados pelos personagens, cada um com sua peculiaridade. O enredo é inspirado em lembranças da infância de Branagh, que é irlandês. Então passamos por cenas preciosas como as idas ao cinema em família, os pais dançando apaixonados, o olhar carinhoso pela colega de turma. A dinâmica dos avós também é única. O cuidado com os netos, o apreço, a presença.

Belfast tem muitos momentos de abraço no espectador, que é facilmente conquistado por todos os personagens e pela história em si. A atuações são um grande destaque, tanto de performance quanto de foco por parte da direção. Muitas cenas que enquadram diretamente no rosto dos personagens, pegando todas as suas variações. Não tem absolutamente ninguém destoando, com um elenco com tamanha química que parece uma família de fato. Judi Dench é um espetáculo particular em qualquer cena que aparece, assim como Ciarán. A dupla Caitriona e Jamie é uma delícia de acompanhar, pois conseguem variar tranquilamente em todas as nuances do casal. Fico feliz de ver que Dornan tem conseguido se dissociar cada vez mais da trilogia Cinquenta Tons de Cinza, pois ele, definitivamente, vai muito além de um ator meeiro.

Com roteiro calmo e simples, o filme consegue fazer o espectador sorrir e chorar, às vezes até na mesma cena. Belfast chega ao Oscar 2022 com sete indicações, dentre elas a de Melhor Filme, sendo um forte candidato para levar a estatueta. Acredito que a competição será direta com Ataque dos Cães, sendo que este último sofre o preconceito da Academia por ser uma produção Netflix. Sendo assim, é esperado que essas sete indicações rendam pelo menos uns dois prêmios.

Direção: Kenneth Branagh

Elenco: Caitriona Balfe, Jamie Dornan, Jude Hill, Ciarán Hinds , Judi Dench, Colin Morgan, Lewis McAskie, Lara McDonnell

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