Tiro Certeiro

Crítica: Tiro Certeiro (Netflix)

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Singelo, mas cheio de inspiração e coragem, Tiro Certeiro é o novo curta-metragem distribuído pela Netflix. Misturando gêneros, como romance e ação, o filme consegue criar, em um pequeno espaço de tempo, empatia com as suas personagens, estabelecer tensão, criar atmosfera e amarrar a sua trama. É uma produção redonda que, inclusive, começa a projeção de forma semelhante ao seu final, amarrando todo o conteúdo ciclicamente.

Dentro desta lógica, a diretora e roteirista Marielle Woods (Cobra Kai) – que escreve o roteiro ao lado de Lauren Ludwig (5 Pilgrims) – consegue imprimir os traços principais da personalidade das figuras centrais do enredo. Seja nos diálogos ou na construção dos elementos e pessoas que cercam Nikki (Elena Heuzé) e Samantha (Nia Sondaya) é nítido quem são aquelas adolescentes. O espectador não precisa de muito tempo para conhecê-las ou entendê-las.

Obviamente, não há um aprofundamento sobre suas características, porém os conflitos básicos de cada uma, seus desejos, sonhos e backgrounds familiares são colocados na narrativa. E todos estes elementos não chegam de um jeito expositivo. pelo contrário, Woods e Ludwig optam por dividir quem são estas jovens através da exploração do namoro de Nikki e Samantha.

Entre declarações e DRs, os elementos sobre elas são postos e tratados com organicidade, pois são convocados fluidamente, com cada acontecimento e fala puxando cada assunto de suas vidas. Todavia é preciso lembrar: este não é um curta que foca apenas no amor teen sáfico. Há um risco aqui, quando a obra mistura os gêneros. As idas e vindas climáticas poderiam soar artificiais ou forçadas, mas este fato não ocorre, porque Woods estabelece qual será o tom desde o início da sessão e o mesmo permanece durante toda projeção.

Entre suspense, tensões e uma arma guardada na mochila, há o encantamento e amor juvenil de Nikki e Samntha e é aí que toda história se faz. A decupagem fomenta este olhar para a dupla e esta mescla de ambientações. Entre as declarações românticas, Woods não deixa que seja esquecido que a qualquer momento o suposto segredo de Nikki pode ser revelado e que o casal pode ser atacado.

Talvez, exista aqui certa ingenuidade e uma vontade um tanto exagerada em mostrar serviço na direção. Algumas movimentações de câmera cortam um pouco desta espécie de naturalidade presente no texto, como na sequência em que Nikki e Samantha falam sobre os seus futuros depois do final do ano letivo. Com isso, a qualidade do resultado geral cai do meio para o final, pois os efeitos não dão respiro para o público, que pode se desconectar de quando em quando.

Ainda assim, Tiro Certeiro vale por sua bravura em trazer a união de gêneros e não se perder nesta estratégia, pelo carisma das atrizes principais, por sua reviravolta perto de seu desfecho e pela sensação de continuidade que deixa em sua conclusão.

Direção: Marielle Woods

Elenco: Elena Heuzé, Nia Sondaya