Ataque dos Cães

Crítica: Ataque dos Cães

4.5

Ataque dos Cães chegou no catálogo da Netflix já com uma boa promessa de que seria um longa premiável e de destaque dentro da plataforma. Com Benedict Cumberbatch (Homem-Aranha: Sem Volta para Casa) e Kirsten Dunst (O Estranho que Nós Amamos) no elenco principal, o filme conta a trama de dois irmãos completamente diferentes, sendo um mais refinado e polido, enquanto o outro é um bruto fazendeiro. A dinâmica entre eles já é sensível o suficiente e piora com o surgimento da nova esposa do irmão mais educado. Viúva, ela se torna um incômodo imediato na vida de Phil Burbank (Cumberbatch), que começa a querer infernizar a vida do casal, pela simples inveja.

É simplório demais reduzir a trama de Ataque dos Cães a esta pequena sinopse, pois o filme tem desdobramentos que o tornam difícil de definir com um gênero específico. Ao começo, achamos que o foco será na dupla que mencionei acima, mas isso vai mudando aos poucos a medida que outros personagens surgem. Peter (Kodi Smit-McPhee, Meu Nome é Dolemite) é o filho da viúva. Um rapaz sensível e delicado, o que causa constrangimento aos machões que vivem naquela vila do interior, lá nos idos de 1925. Seu jeito incomoda e é motivo de chacota. Ele parece se importar com isso e prefere a reclusão. A sua fragilidade é bem pontuada no início do texto, através da metáfora da flor de papel que ele produz com tanto cuidado.

A medida que o enredo toma novos rumos, Peter vai crescendo em termos de importância na história. Seu pai se suicidou há alguns anos, o que faz com que ele seja extremamente protetor com a mãe, que possui o emocional muito fragilizado. Quando Phil começa a aterrorizar a convivência da nova família (eles agora moram todos juntos na mesma casa), Rosa volta a beber compulsivamente e ter comportamentos arredios. A diretora Jane Campion passeia por várias nuances no longa, pontuando a questão da inveja e dos desejos reprimidos, de maneira muito sutil e assertiva. Como disse, o filme não se define como gênero a maior parte do tempo, se tornando é mais um elemento interessantíssimo da forma como o roteiro evolui.

Ataque dos Cães é cheio de detalhes e nuances que vão sendo pegas aos poucos pelo espectador. Mas consigo afirmar ainda que somente ao final da projeção é que algumas pontas são conectadas. É o tipo de filme que vale a pena ver duas vezes para pegar as sutilezas. A masculinidade tóxica de Phil é apenas um ardil para esconder todas as fraquezas que lhe são peculiares, mas que a sociedade machista local não permite que sejam expostas. Então ele é bruto, violento, ignorante, pois isso se torna uma carapaça mais fácil de lidar. A narrativa vai aos poucos mostrando suas dores e questões internas.

Num cenário de belas paisagens e trilha sonora cuidadosa, assistimos a atuações impecáveis de Benedict Cumberbatch e Kirsten Dunst. Ele se desmonta de qualquer papel anterior para nos apresentar um personagem difícil de aturar e com várias nuances. Já ela encarna o papel da mulher forte que lidou com a morte do primeiro marido e cria o filho sozinha na sociedade machista, mas que acaba se afetando emocionalmente pela inveja direcionada pelo cunhado. Destaque aqui para o jovem Kodi Smit-McPhee que soube dar o tom correto a interpretação de Peter, deixando o espectador em completa dúvida sobre o comportamento do personagem.

Ataque dos Cães é um filme de altíssima qualidade pois consegue se provar em diversas nuances, desde o roteiro e atuações, até os detalhes técnicos como a fotografia. Vale todas as 12 indicações que teve no Oscar 2022 e arrisco dizer que é um dos favoritos da premiação, especialmente nas categorias de Roteiro e Melhor Filme.

Direção: Jane Campion

Elenco: Benedict Cumberbatch, Kirsten Dunst, Jesse Plemons, Kodi Smit-McPhee, Thomasin McKenzie, Keith Carradine, Frances Conroy, Genevieve Lemon

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