estreia A Primeira Noite de Crime

Crítica: A Primeira Noite de Crime

O cinema é uma arte travessa que pode se sabotar a qualquer momento. Ter uma boa ideia não significa ter um bom argumento, assim como não define se a produção dará certo. O universo da sétima arte já viveu centenas de momentos inesperados com o sucesso de algo dado como fracasso ou a falha colossal e inexplicável de um produto jurado como uma verdadeira mina de ouro. Apostas altíssimas em adaptações de best-sellers, por exemplo, são algumas das falhas mais comuns. Continuações e mais continuações deixaram de ser produzidas por uma escolha errada ou um trabalho mal executado – como aconteceu com Eragon (2006), A Bússola de Ouro (2007) e, mais recentemente, Percy Jackson (2010 – 2013) e Instrumentos Mortais (2013).

De outro lado, existem aquelas produções que vingam de forma inimaginável. Franquias cuja bilheteria é astronômica e cheia de fãs mesmo que suas produções sejam desnecessárias para a construção do universo. Dentro desse grupo da incompreensão está a franquia Uma Noite de Crime (2013 – 2018). A ideia que rege as histórias é simplesmente fantástica. Tratar da selvageria humana e os seus limites é válido e atual, tornando a premissa dos longas-metragens genial. O problema mora na execução dos filmes e o seu foco temático em cada uma das produções. E, como se três longas e uma série de tv já não fossem o suficiente, a Blumhouse produz mais um capítulo – o suposto final para as telonas.

Com a estreia brasileira marcada para essa quinta-feira (27), A Primeira Noite de Crime fecha os trabalhos no circuito cinematográfico e permite que a história se suceda na televisão. Apesar de ser a última película da franquia, The First Purge ilustra ao público como começou todo esse projeto sangrento. O espectador do Brasil aguarda ansiosamente por esse desfecho que, numericamente, promete muito. A produção começou a ser exibida nos Estados Unidos em julho e já arrecadou dez vezes o seu orçamento.

A nação estadunidense está em crise. As taxas de desemprego e inflação estão elevadas e a população vive um caos. Para reparar as feridas do país, o novo partido político, Novos Pais Fundadores da América (NPFA), desenvolve um experimento social o qual é anunciado como a salvação para todos os problemas dos EUA. O evento consiste em 12 horas sem nenhum tipo de lei vigente, onde as pessoas são incentivadas a liberarem todas as frustrações da forma que acharem melhor – mesmo que seja matando alguém. Já que não é obrigatório participar, o governo oferece 5.000 dólares para os cidadãos de Staten Island que ficarem lá. Aos que estiverem dispostos a participar, ainda existe uma bonificação para aqueles que participarem ativamente da “noite de crime”.

Crítica: A Primeira Noite de Crime

O quarto filme da franquia The Purge pode ser resumido com uma única palavra: diferente. Parece que eles guardaram o melhor capítulo para o final. Quer dizer, parece que eles só tiveram uma ideia bem elaborada agora. O hiato de dois anos entre esse longa e seu antecessor permitiu que James DeMonaco – roteirista da franquia e, anteriormente, diretor dela – fizesse uma história que vale a pena ser vendida e assistida nos cinemas. Enfim, o público esperou cinco anos para uma digna realização dessa ideia excepcional que dá corpo aos filmes da Blumhouse.

A troca de diretor, portanto, fez uma diferença visual e estética clara. Gerard McMurray trouxe uma visão completamente renovada. A Primeira Noite de Crime representa a compreensão da mudança. E é justamente essa transformação na direção, fotografia e trilha sonora que faz desse o melhor filme da franquia. McMurray devolve a tensão tão necessária para as sequências de perseguição que já estava perdida desde Anarquia (2014). Outro ganho da parceria McMurray-DeMonaco foi a originalidade da obra. Por mais que o contexto fosse semelhante, eles conseguiram sair do lugar comum e trazer questões relevantes para o roteiro.

A mudança da dinâmica das personagens também foi um fator determinante para elevar a qualidade da película. Pessoas mais reais e bem exploradas fizeram toda a diferença para a imersão do espectador nesse mundo cruel e sanguinário proposto por DeMonaco desde 2013 – em especial quando comparado com Anarquia e Ano de Eleição (2016) onde as personagens se perdiam em meio ao banho de sangue. Mesmo com todas as melhorias, a previsibilidade da obra se mantém. A diferença entre esse e os demais longas está na lapidação do produto. Dessa vez o público está comprando uma ideia melhor escrita, produzida e trabalhada. A Primeira Noite de Crime não é o melhor filme de suspense distópico do ano, mas é, sem dúvida alguma, a melhor produção dentro do seu universo.

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