Balanço: Temporada Blockbuster 2014

Agora que já estamos no segundo semestre de 2014 (o tempo passa rápido…), chegou a hora de começarmos a fazer os primeiros balanços do ano. Claro que o principal deles é o da temporada de verão norte-americana, conhecida por trazer em seu calendário as principais super-produções da indústria cinematográfica. Esse ano o rendimento foi bem menor que o potencialmente esperado, no entanto, o que predominou foi a qualidade dos principais títulos dos estúdios.

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Os melhores filmes

Para quem estava cansado do marasmo  da Marvel e começava a perceber que, em função do projeto Os Vingadores, o estúdio uniformizava seus títulos foi surpreendido com dois dos melhores filmes do catálogo da empresa e , consequentemente, da temporada: Capitão América 2 – O Soldado Invernal e Guardiões da Galáxia. Ambos também figuram entre as produções mais rentáveis das férias. Até o momento, Capitão América 2 é a maior bilheteria de 2014, com mais de US$ 259 milhões no bolso (ainda que sua equação com o orçamento de US$ 170 milhões não compense o resultado), e Guardiões da Galáxia foi a melhor estreia do mês de agosto de todos os tempos, cravando mais de US$ 92 milhões somente no seu debut.

Capitão América 2 superou as expectativas para um filme da Marvel ao trazer um autêntico thriller com altas doses de conspiração política que, pela primeira vez, de fato, vira o universo de Os Vingadores de cabeça para baixo. A continuação nos faz ter esperança de que, dessa vez, exista uma justificativa plausível para a união dos Vingadores e que eles enfrentem um perigo realmente ameaçador. Dirigido por uma dupla improvável, Anthony e Joe Russo (ambos de comédias descartáveis como Dois é bom, Três é demais), Capitão América 2 apresenta tomadas irretocáveis tecnicamente e consegue dosar a gravidade necessária ao universo de Steve Rogers com a falta de compromisso inerente às tramas da Marvel. Enfim, um grande acerto. Guardiões da Galáxia, por sua vez, é o grande achado do estúdio nos últimos anos. Irreverente, levemente anárquico e muito divertido, o filme de James Gunn coloca o catálogo do estúdio em um outro nível. Beneficiado por ser um dos materiais menos conhecidos da Marvel, Guardiões da Galáxia encontrou uma assinatura própria nas mãos do seu diretor e do seu protagonista, Chris Pratt, definitivo como Peter Quill, ou melhor, Star Lord.

Apesar de não fazer parte do catálogo da Marvel Studios (por relações contratuais prévias com a Fox, a franquia não é controlada por Stan Lee e cia.), a trajetória de X-Men – Dias de um Futuro Esquecido pode ser adicionada a ótima campanha da marca de HQs nessa temporada cinematográfica. A Fox trouxe de volta Bryan Singer, que desde que deixou a direção dos filmes da saga em X-Men 2 não fez nada que valha a pena destacar, e fez um dos melhores filmes da série cinematográfica, resgatando determinados elementos descartados em X-Men – O Confronto Final, mas mantendo o respeito com o caminho percorrido pelos mutantes no cinema até aqui, ao unir a jovem e a velha guarda do grupo de heróis. X-Men – Dias de um Futuro Esquecido nos faz querer que Singer fique por muitos anos no comando da saga pois ele é um dos realizadores que mais entendem o caráter singular dessa HQ da Marvel. Nas bilheterias norte-americanas, o longa de Singer teve dificuldades para ultrapassar o seu orçamento, mas teve a compensação no mercado internacional, o que garante com folga a longevidade da franquia. Com a crítica, não há o que se discutir, foi um dos projetos X-Men mais bem resenhados.

Completa a lista, Planeta dos Macacos – O Confronto que segue o caminho do filme anterior, lançado em 2011. Também produzido pela Fox, Planeta dos Macacos – O Confronto recebeu uma injeção de ânimo no orçamento e alcança um nível de perfeição técnica superior ao primeiro longa, ainda que peque em seu 3D. Como narrativa, O Confronto eleva Planeta dos Macacos ao patamar de uma das sagas com a melhor execução do seu conceito e da sua condução. Nada no filme é gratuito, desde a evolução dos seus personagens até as interessantes sequências de ação que preenchem o longa pontualmente. Com US$ 190 milhões arrecadados no mercado norte-americano, Planeta dos Macacos – O Confronto ainda promete ser um dos títulos mais lucrativos do estúdio nessa temporada.

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 Os piores filmes

Como nem tudo são flores, o verão hollywoodiano também nos proporcionou algumas das maiores bombas do ano, seríssimos candidatos ao Framboesa de Ouro, deixando claro que mencionaremos apenas os títulos assistidos. Assim, já antevendo os clamores, Juntos e Misturados, por exemplo, não faz parte da lista encabeçada, é claro, por Transformers – A Era da Extinção, mais recente capítulo da franquia que é “prazer culposo” de 9 em cada 10 críticos de cinema. Digo “prazer culposo” porque não deixa de ser uma experiência proveitosa assistir os filmes de Michael Bay para aprender na prática o que não se deve fazer no cinema. A Era da Extinção segue os mesmos cacoetes da trilogia anterior protagonizada por Shia LaBeouf: o filme é desnecessariamente extenso, não tem a mínima sutileza e apresenta um roteiro praticamente nulo. O longa é seguido da comédia Mulheres ao Ataque que utilizou um elenco feminino encabeçado por Cameron Diaz e Leslie Mann para contar uma história extremamente machista, calcada em estereótipos femininos mofados que, ainda bem, já vemos com menos frequência nas telas. Podemos adicionar à seleção Transcendence – A Revolução, uma das maiores decepções do ano se levarmos em consideração as expectativas depositadas no longa por ser a primeira direção de Wally Pfister, diretor de fotografia dos filmes de Christopher Nolan. Pfister utilizou um elenco formado por Johnny Depp, Rebecca Hall, Morgan Freeman, Paul Bettany e Cillian Murphy para contar uma história com um conceito que se torna ainda mais frágil com o seu desfecho equivocado e confuso.

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As mulheres de volta ao Box Office

A temporada de férias 2014, por sua vez, foi celebrada pelo nicho feminino da indústria. Muitos títulos protagonizados por mulheres, alguns deles com mensagens de teor feminista, estão entre os títulos mais rentáveis do ano. Esse fato é enaltecido porque, tradicionalmente, o Box Office norte-americano é protagonizado por filmes de ação masculinos com apelo juvenil que colocam as mulheres sempre em segundo plano como objeto sexual já que o maior público pagante das bilheterias ainda é formado por adolescentes do sexo masculino. Malévola, com Angelina Jolie, um dos títulos que integra essa fase de redefinição de arquétipos femininos da Disney, está no topo dessa lista, ocupando a quarta posição das maiores bilheterias do ano, perdendo apenas para seu extremo oposto Transformers – A Era da Extinção (3º), a animação Uma Aventura Lego (2º) e Capitão América 2 – O Soldado Invernal (1º). Essa nova safra bem-sucedida de blockbusters “femininos” também é protagonizada pela jovem Shailene Woodley que, de talento promissor em Os Descendentes, transformou-se em um dos maiores nomes da indústria atualmente com a repercussão de Divergente e A Culpa é das Estrelas, 11ª e 15ª posição no ranking geral das bilheterias. Completa o grupo Scarlett Johansson, que ocupou a primeira posição nas bilheterias da semana passada com o longa de Luc Besson Lucy.

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Oh, Cameron…

Apesar da temporada ter sido feminina, uma das suas representantes não se saiu tão bem assim com dois títulos em cartaz: Cameron Diaz. Com Mulheres ao Ataque, a atriz conseguiu o repúdio da crítica, sobretudo a feminina, como já dissemos, e  Sex Tape – Perdido da Nuvem , que acaba de ser lançado nos EUA,  seguiu o mesmo caminho.  Ou seja, a atriz precisa se reinventar com urgência ou escolher um agente melhor!

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Prejuízos financeiros

Dois títulos renderam abaixo do esperado em 2014. A comédia Um Milhão de Maneiras de Pegar na Pistola de Seth MacFarlane não acompanhou o ótimo desempenho do filme anterior do humorista, Ted, ainda que contasse com um elenco atraente o suficiente para tanto (Charlize Theron, Liam Neeson, Amanda Seyfried…). O filme arrecadou somente US$ 42 milhões nos EUA, sendo que seu orçamento é de  US$ 40 milhões cravados. Já No Limite do Amanhã teve a baixa repercussão esperada nos EUA em função das últimas performances de Tom Cruise nas bilheterias locais. O novo filme do ator arrecadou US$98 milhões, sendo que custou US$ 170 milhões para a Warner. No entanto, o filme teve uma ótima arrecadação internacional, o que acabou compensando no final das contas.