O Menino e o Ovo

Mostra de Tiradentes: O Menino e o Ovo

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A inocência da infância e as curiosidades despertadas nela são tema geral de O Menino e o Ovo. A premissa do filme é a investigação de Joana, que se inicia após a menina escutar em sua escola um mito de Cuiabá sobre como um ovo colocado no asfalto frita tamanho o calor da cidade. Desta maneira, durante todo filme, ela passa a tentar desvendar se este rumor é verdadeiro ou não. Os elementos que marcam as aflições e questionamentos da garota estão presentes na obra. Há uma cena de jantar que ilustra esta divergência presente na obra: a dos adultos em alimentar fantasias versus uma percepção que as crianças possuem de que geralmente não são ouvidas.

A aproximação com este universo é bem elaborada, pois trazem situações que fomentam a perspectiva de Joana dos eventos que marcam esta espécie de aventura. Existe uma sensibilidade para enxergar este mundo, seja pela mise-en-scène, principalmente quando Joana e seus colegas estão juntas ou nos enquadramentos. O olhar de Joana é transmitido em planos rápidos, porém fixos, nos quais o seu descontentamento ou animação ficam compreensíveis . O roteiro traz diversos instantes que a rementem ao período de vida que a protagonista vive e a teimosia infantil, como nas múltiplas sequências em que a garota pega um ovo escondido, para tentar descobrir se é verídica a história contada pelos colegas ou não.

No entanto, existem alguns incômodos com esta obra. Há uma aparente tentativa de reforçar o contexto da infância, numa busca de criação de atmosfera mais lúdica. Esta estratégia não acrescenta muito a narrativa. É um reforço que não contribui diretamente para o que está sendo contado. Porque, além de ser uma repetição de algo que já está óbvio, as estratégias usadas para tal intento chegam soltas.  A saturação baixa, por exemplo, demonstra a procura de um olhar mais lúdico, talvez, porém, efetivamente, não há motivo para esta escolha, ela não está refletida na tela. Também há a presença constante de algumas cores nos figurinos. Ao final, a insistência com o verde e o vermelho  deixa a projeção cansativa apemas.

Para completar, outra questão que reduz a significância deste material é o seu desfecho moralista. Sem uma construção dentro do enredo para tratar de questões sociais, a trama se encerra com a personagem principal desistindo de fazer sua experiência com o ovo, porque vê um garotinho procurando comida no lixo. Por não existir nada na obra que evoque uma discussão ou reflexão sobre qualquer temática neste sentido, a ação soa gratuita, uma lição solta, em uma produção que se mostra majoritariamente focada nas vivências e imaginações das crianças somente.

Por isso, apesar de apresentar um contexto e uma história simples, O Menino e o Ovo falha em não conseguir transmitir a mensagem que deseja com a sua conclusão ou formar um arco completo do que estava acontecendo na maior parte do tempo. Sem muita expressividade e utilização das ideias para criar algo com um propósito firmado e nítido, há uma perda de oportunidade de explorar a criatividade da equipe, para entregar um conteúdo amarrado.

Direção: Juliana Capilé

Elenco: Maria Luíza Tozato, Tatiana Horevicht, Ronaldo Adriano

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