Mikhail Gorbachev é uma figura extremamente conhecida e comentada no percurso da história mundial. Com a criação da Glasnost e Perestroika, o estadista da antiga União Soviética assumiu o poder da região por seis anos. Até os dias de hoje, existem diversas contradições e pensamentos divergentes e/ou misturados sobre Gorbachev. Neste documentário de Vitaly Mansky (Sob o Sol), toda esta complexidade é transmitida, através de cada fala, ação e movimento feitos pelo próprio ex-líder russo.
Este é um filme que abre espaço para que Gorbachev seja investigado de perto, sendo ouvido cada relato do próprio político. Já em uma idade avançada, aos 90 anos, ele demonstra suas fragilidades, incertezas e confusões para a câmera, que procura analisar e revelar cada ângulo de sua personagem principal. Este desejo de expor facetas e multiplicidades de pontos de vista de uma mesma pessoa é trazido pela direção em sua decupagem. Colocando-o em diversos espaços do ecrã e utilizando várias lentes, Mansky imprime imageticamente o que está sendo reproduzindo na condução das perguntas feitas para Gorbachev.
Dentro deste contexto, porém, é importante ressaltar como o discurso, as lembranças e relatos são todos pela perspectiva de Gorbachev. Sem que este elemento seja avaliado, aqui, qualitativamente, é inegável que, além da narração e dos questionamentos feitos por Mansky, o público acompanha o seu pensamento, quase que exclusivamente. A partir deste observação, também é possível apontar que, neste cenário, poucos recursos são explorados. O longa não é inventivo.
Passado, praticamente, quase inteiramente dentro da casa de Gorbachev – com exceção de algumas saídas daquele ambiente –, a reconstrução dos marcos da carreira do protagonista e todas as suas polêmicas poderiam ter sido ilustradas com outras estratégias, que são até comuns no gênero. Talvez, mais imagens de arquivo, recortes de periódicos, outras sonoras. A clausura na residência de Gorbachev é relevante para a instalação de atmosfera da produção e para fomentar esta necessidade que parece existir de entrar na intimidade do político. No entanto, estes outros elementos distintos dos utilizados na obra dariam respiros a ela.
Após quase 30 anos do final da União Soviética, assistir a uma sessão com aquele que foi responsabilizado pela dissolução do local, escutando sua perspectiva dos acontecimentos é, de toda maneira, um certo privilégio. Ainda que tenha faltado preencher a exibição com outras formas de se contar uma história, há uma busca por trazer enquadramentos criativos e olhar de perto uma figura pública tão relevante, deixando um registro importante para o futuro.
Direção: Vitaly Mansky
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