O Halloween – conhecido no Brasil como Dia das Bruxas – é uma herança dos irlandeses trazida para os EUA pelo povo saxão. O feriado se espalhou pelo mundo graças às produções de Hollywood. O mercado derivado desse feriado é um dos mais lucrativos para a sétima arte. O festejo usa o fator místico e sobrenatural que permeia a tradição irlandesa para cativar atenção dos curiosos e amantes do desconhecido. Como a indústria cinematográfica não poderia deixar de lado uma época tão propícia para os negócios, o terror é fortemente alimentado pelo Halloween. Dessa forma, outubro acaba sendo o ápice das produções desse gênero. E que momento melhor para se falar do horror se não no mês que incorpora sua atmosfera de medo?
No ano de 2018, apesar do nicho não ter se apegado a remakes ou reboots de franquias clássicas – como foi amplamente feito em 2017 –, o gênero esteve diariamente abatido por conta dos inúmeros fracassos. Produções hollywoodianas, de streaming e fora do usual circuito do terror se mostraram incompetentes ao trazer o verdadeiro espírito do medo para as telonas mundo afora.
Projetos frustrantes
Sobrenatural – A Última Chave, A Maldição da Casa Winchester, Verdade ou Desafio e Slender Man – Pesadelo Sem Rosto foram algumas das estreias mundiais que mais frustraram os amantes do terror ao longo do ano. Cada um foi, de sua maneira, uma chance perdida de emplacar um produto de qualidade. Uma sequência mal utilizada, uma história real clichê, uma sucessão de previsibilidades, e uma lenda urbana pessimamente feita. Esse é o panorama geral sobre cada um desses lançamentos.
Os fãs e estúdios tinham, antes de suas respectivas estreias, uma expectativa altíssima sobre essas películas. Mesmo com a frustração de muitos, a arrecadação dessas quatro produções foi altíssima. Tal evento se dá pelo simples fato do baixo orçamento usado para produzi-las. Evidentemente que cada uma atraiu os espectadores de acordo com a sua proposta inicial – seja levando aos cinemas fãs de uma franquia, interessados no sobrenatural, adolescentes ou conhecedores de lendas. No fim, o lado econômico foi bem recompensado (com exceção de Slender Man, o qual não teve uma arrecadação tão maior que seu orçamento), mas, em contrapartida, o mundo do terror teve uma perda colossal.
Terror no Streaming
Indo para além das estreias mundiais e telonas, é possível encontrar mais produções problemáticas, dessa vez distribuídas pelo streaming Netflix. O Paradoxo Cloverfield e Vende-se Esta Casa foram algumas das estreias mais terríveis da Netflix em 2018. O streaming lançou-as com uma propaganda imensa como se fossem resultado de um bom trabalho, mas a realidade por trás desses dois filmes é a incapacidade criativa de pessoas e a negligência com a produção de uma narrativa de terror.
The Cloverfield Paradox (título original) faz parte da confusa e nada cronológica franquia Cloverfield. A falta de credibilidade existente dentro dos próprios bastidores do longa fez com que a Paramount Pictures abrisse mão dos direitos de distribuição do seu produto. O ocorrido já criou uma descrença em cima da produção antes mesmo do seu lançamento. E, após a sua estreia no catálogo da Netflix, todos os medos foram confirmados.
O resultado de Vende-se Esta Casa foi ainda mais cruel. O longa-metragem estrelado por Dylan Minnette (13 Reasons Why) é um desastre desde o seu primeiro minuto. A história é extremamente confusa, falta originalidade e a coesão dela é questionável. O Paradoxo Cloverfield ainda se dá ao trabalho de criar referências com clássicos do horror/sci-fi como tentativa de salvação – coisa que a produção de The Open House (título original do filme com Dylan) não foi capaz de fazer.
Ainda há esperança
Apesar dos monstruosos desastres, existiram algumas luzes no final do túnel. Um Lugar Silencioso e Hereditário são provas vivas do que pode acontecer de bom e inovador nesse universo. Os longas em questão renovaram as expectativas para o futuro do gênero. São justamente trabalhos como esses que servem de combustível para a arte quase centenária do horror. O cuidado com a superestrutura essencial da narrativa de terror foi respeitado por John Krasinski e Ari Aster – respectivamente diretores – fazendo com que as suas obras tenham sido as melhores do ano. Alguns podem dizer que foi sorte de principiante – uma vez que ambos fizeram suas estreias como cineastas – mas a qualidade de raciocínio e entendimento para com o universo é simplesmente inegável.
Ainda existem alguns longas-metragens cuja distribuição não aconteceu de maneira ampla, fazendo com que parte do público não tenha tido ainda a oportunidade de conhecer algumas maravilhas do gênero. Os melhores exemplos são Mandy e Verão de 84, que ainda não tem data de estreia no Brasil. Ambas produções tiveram a sua primeira exibição no Festival Sundance de Cinema. Mandy, por exemplo, foi consagrado desde o Festival (com direito críticas excelentes) pela sua excelência. Nunca se viu um filme tão visceral e tenebroso quanto o novo trabalho do diretor Panos Cosmatos. Além da narrativa muito bem executada, o terror ainda é abrilhantado pela melhor atuação da carreira de Nicolas Cage ao vê-lo encarnar o perturbado Red Miller.
O slasher teen Verão de 84 é, por sua vez, uma encenação do cenário da década de 1980. Todos os atributos míticos desse período foram costurados em meio a uma caçada por um serial killer. O fato da narrativa ser estrelada por adolescentes dá vida e força ao objetivo da produção que é trazer a inocência associada à fértil imaginação juvenil. O trabalho canadense remonta um subgênero – que pouco sobrevive aos dias de hoje – com muita originalidade e saídas inteligentes para os inevitáveis clichês.
Uma luz no futuro?
É interessante pensar também nas promessas que ainda estão por vir. Agora no final de outubro (6 dias antes do Halloween) estreia uma das películas mais esperadas do gênero. A sequência de uma das histórias mais assombrosas já feitas volta a vida como uma proposta de renovação para a franquia – a qual havia caído num abismo de mediocridade desde 1981. O novo Halloween, dirigido por David Gordon Green, se mostra como uma saída para os males das franquias.
A pior coisa que pode acontecer com uma série de filmes de terror é a fabricação de histórias vazias. E esse processo ocorreu de maneira ampla nas últimas décadas, matando primorosas obras do horror como O Massacre da Serra Elétrica (1974), A Hora do Pesadelo (1984) e o próprio Halloween (1978). A Blumhouse apareceu como a detentora da fórmula mágica para salvar a narrativa de Michael Myers do buraco. O impressionante é que a produtora de longas de terror consegue fazer isso magnificamente. O resultado da sequência do longa de John Carpenter será o orgulho de todo fã de terror.
Associada a toda essa espera pelo que vem adiante, existe muita expectativa sobre o próxima longa-metragem do diretor italiano Luca Guadagnino. A produção é um remake da consagrada obra de horror de mesmo título, Suspiria, do também diretor italiano Dario Argento. A película causou um frenesi no gênero desde a sua primeira exibição no Festival Internacional de Cinema de Veneza onde, ao final do filme, o público aplaudiu por 8 minutos o resultado do trabalho de Guadagnino. Com data marcada para estrear dia 26 de outubro nos EUA, Suspiria causa, assim como Halloween, esperança para os fãs do horror por verem obras tão renomadas serem bem executadas em suas releituras. Ainda há pessoas no universo cinematográfico que conseguem entender a essência do terror e honram o seu papel na indústria, pondo a qualidade da película acima de qualquer outro fator.